Cecília Meireles - Olhinhos de Gato (pdf)(rev) - Português
Cecília Meireles - Olhinhos de Gato (pdf)(rev) - Português
Cecília Meireles - Olhinhos de Gato (pdf)(rev) - Português
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
pare<strong>de</strong>s. . .<br />
E um menino rodava um arco, e ouvia-se o aro bater nas<br />
E das salas abertas saíam vozes <strong>de</strong> gente e <strong>de</strong> piano.<br />
Nos porões, as negrinhas passavam roupa a ferro, sozinhas,<br />
com a roupa ali amontoada. . .<br />
"On<strong>de</strong> foi que o Judas per<strong>de</strong>u as botas?"<br />
"Você já está ficando muito gran<strong>de</strong> para andar <strong>de</strong> colo.. ."<br />
Era um tempo muito passado, aquele. Sua capa branca<br />
tinha um capuz caído para trás. E seus cabelos passavam perto<br />
das trepa<strong>de</strong>iras, e sua mão tocava gran<strong>de</strong>s flores, parecidas com a<br />
lua. E o perfume ia andando sobre o seu rosto. . .<br />
No fundo <strong>de</strong> um jardim cheiroso, numa janela <strong>de</strong> cortinas<br />
brancas, distantes um do outro, sorria um rosto <strong>de</strong> moça para um<br />
rosto <strong>de</strong> homem. A areia do jardim brilhava com a lua. Não havia<br />
mais ninguém. Tinham-se acabado as crianças, os bêbados, os<br />
tílburis, as janelas. Não havia mais o resto da rua. E a menina<br />
secretamente <strong>de</strong>sejou ser gran<strong>de</strong>, ter aquela blusa <strong>de</strong> babados, e<br />
sorrir assim, sob cortinas brancas, numa noite <strong>de</strong> lua, num<br />
silêncio com flores. . .<br />
Um dia, os mascarados chegavam. "Você me conhece?" E as<br />
caras <strong>de</strong> papelão rodavam para um lado e para outro,<br />
As crianças já saíam da cama sacudindo pan<strong>de</strong>iros e<br />
soprando cometas estri<strong>de</strong>ntes. Punham ca<strong>de</strong>irinhas do lado <strong>de</strong><br />
fora, sentavam-se também na soleira da porta, tagarelavam com a<br />
língua muito embrulhada, e a boca cheia <strong>de</strong> cuspo. De vez em<br />
quando, um pan<strong>de</strong>iro rolava pela rua abaixo.<br />
Risadas, vozes fanhosas, sacudir <strong>de</strong> guizos: vinha gente<br />
enrolada em lençóis, segurando a máscara <strong>de</strong> pano com uma das<br />
mãos, e fechando com a outra a vestimenta sobre as pernas. "Você