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Cecília Meireles - Olhinhos de Gato (pdf)(rev) - Português

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Um terreiro maior que o <strong>de</strong> D. Eroti<strong>de</strong>s. Oh! muito maior. E os<br />

leões em volta, sentados, rugindo. Naturalmente, aqueles leões<br />

enormes que Dentinho <strong>de</strong> Arroz lhe mostra no alto dos portões.<br />

Rugindo com aquelas vozes muito grossas, vozes <strong>de</strong> oco <strong>de</strong> pedra,<br />

que se ouvem só <strong>de</strong> noite, ao adormecer, à hora em que os leões<br />

<strong>de</strong>scem das pilastras, se <strong>de</strong>sencantam, viram animais vivos. . .<br />

Lá vão, lá vão os burrinhos do bon<strong>de</strong>, com suas lindas<br />

campainhas ao pescoço. A viagem é toda por <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa música.<br />

. . — ligue-ligue, ligue-ligue, ligue-ligue. . .<br />

O homem do bon<strong>de</strong> dá um assovio estri<strong>de</strong>nte, que<br />

estremece a criança e os burros. Saltam baleiros pelo estribo, com<br />

seus cartuchos <strong>de</strong> confeitos e pára-quedas <strong>de</strong> papel rendado.<br />

"Artéia? Ovo? Chiculate?<br />

E as patas dos animais batem nas pedras — tão direi-<br />

tinhas! — plec, plec, plec. . . Mas <strong>de</strong> vez em quando o chicote dá<br />

uma volta pelo ar, e estala em cima <strong>de</strong>les. Que dor!<br />

A criança, com medo e pena, refugia-se na capa <strong>de</strong><br />

Boquinha <strong>de</strong> Doce, Cheira a calor, a malva seca, a ma<strong>de</strong>ira do<br />

armário. A outras pessoas. A outras casas. Coisas guardadas.<br />

Perdidas. Tempo,<br />

Entra pelo bon<strong>de</strong> um ventinho bom, leve e atual.<br />

Os burrinhos apressam o passo: plec, plec, plec. . . E as<br />

campainhas cantam.<br />

Para esquecer-se do chicote, a menina fecha os olhos.<br />

Esquece-se da viagem, <strong>de</strong> si mesma, vai-se<br />

esquecendo, esquecendo...<br />

Talvez dormisse.<br />

............................................................................................<br />

Uma vez, porém, não se cuidou do vestido <strong>de</strong> tiotês. Havia<br />

pressa. Precipitação. E "ohs!" e "ahs!" abafados. "Apanha-me as

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