Cecília Meireles - Olhinhos de Gato (pdf)(rev) - Português
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tirando-a <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do chão. Desviaram um lencinho <strong>de</strong> seda<br />
enfeitado <strong>de</strong> raminhos roxos. Oh! os raminhos ela está vendo:<br />
durinhos, na seda, com folhinhas e flores. . . "Beije a mamãe." O<br />
rosto era duro e frio. Brilhava. Perto, havia uma porta.<br />
O menino soluçava tanto que ela queria também chorar.<br />
Ficou-lhe uma impressão <strong>de</strong> móveis <strong>de</strong>sarrumados, <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m. De sala vazia, no meio da tar<strong>de</strong>. De restos <strong>de</strong><br />
flores. E o cheiro morno do ar per<strong>de</strong>ndo-se.<br />
Uma criada escura, nos intervalos daquela pressa triste,<br />
puxava-lhe os cachinhos — que esticavam, esticavam, e, <strong>de</strong><br />
súbito, se enrolavam sozinhos — e batia-lhe no lábio, fazendo biro-<br />
biro-biro. . .<br />
Por fim, parece que escureceu. As últimas figuras partiam.<br />
Ouvia-se falar: "Já é tão tar<strong>de</strong>! Como iremos, agora, para tão<br />
longe..." Ouvia-se respon<strong>de</strong>r: "Não... Não vão. Fiquem hoje<br />
conosco. . ." Era muito grave, porque a voz chorava.<br />
E dormiram muitas pessoas no mesmo quarto. Por baixo<br />
dos travesseiros, puseram uns livros muito gran<strong>de</strong>s...<br />
_ Có!<br />
4<br />
Ela era pequenina. Ainda nem tinha sobrancelhas! Parava<br />
nessas duas letras. Mas sabia que não estava dizendo tudo. Como<br />
é, porém, que se po<strong>de</strong> dizer mais? E <strong>de</strong>ixava-se estar sorrindo e<br />
olhando <strong>de</strong> longe.