Cecília Meireles - Olhinhos de Gato (pdf)(rev) - Português
Cecília Meireles - Olhinhos de Gato (pdf)(rev) - Português
Cecília Meireles - Olhinhos de Gato (pdf)(rev) - Português
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
indo-se. OLHINHOS DE GATO, não.<br />
OLHINHOS DE GATO foi atrás <strong>de</strong>la, convencida. Tudo<br />
podia ser. OLHINHOS DE GATO também não tinha dúvida <strong>de</strong> que<br />
a terra pu<strong>de</strong>sse estar dando ouro. É tão misteriosa, a terra!<br />
Deviam ser os tesouros dos Reis e dos Feiticeiros <strong>de</strong> que Dentinho<br />
<strong>de</strong> Arroz tanto falava. Ninguém sabia que estavam ali tão perto! E,<br />
<strong>de</strong> repente — tal qual nas histórias — Maria Maruca, sem querer,<br />
o encontrou. . .<br />
Foi atrás <strong>de</strong> Maria Maruca, e estacou diante da barreira <strong>de</strong><br />
ouro. De ouro, sim. Ouro meio cor-<strong>de</strong>-rosa, é certo. Mas ainda<br />
mais maravilhoso. Ouro encantado. Ah! ela mesma ajudou a<br />
<strong>de</strong>stacar, também, do duro barro, aquelas palhetas, com a ponta<br />
da unha — embora machucassem um pouco, finas e cortantes<br />
como vidro.. .<br />
É verda<strong>de</strong> que, na mão, aquele ouro <strong>de</strong>sfalecia logo: tinha a<br />
transparência das asas das libélulas, das asas dos cupins, que<br />
caíam, <strong>de</strong> noite, em redor da luz. Mas a barreira continuava a<br />
faiscar com suas pare<strong>de</strong>s preciosas. . .<br />
Maria Maruca foi buscar uma colher <strong>de</strong> pedreiro: não<br />
queria quebrar aquelas lascas muito miudinho. Po<strong>de</strong>riam duvidar<br />
ainda. "Estão rindo — dizia. Mas vão ver, só!..." Para convencer<br />
absolutamente, foi mesmo buscar uma enxada. Ela queria<br />
arranjar um gran<strong>de</strong> bloco brilhante. Mas o ouro quebrava-se<br />
facilmente. Ouro prodigioso! Quanto mais se cavava, mais<br />
aparecia!<br />
Subiram a escada com as mãos cheias daquelas palhetas<br />
cintilantes. OLHINHOS DE GATO sentia sua existência ligada às<br />
histórias <strong>de</strong> fadas. Não compreendia a estranheza causada por<br />
aquele encontro. Pois não era tão natural que o ouro surgisse ali?<br />
Não compreendia, principalmente, que Dentinho <strong>de</strong> Arroz pu<strong>de</strong>sse