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Cecília Meireles - Olhinhos de Gato (pdf)(rev) - Português

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elógios. . . São como a lua: crescem e diminuem. Nunca ... tinha<br />

reparado, não?"<br />

E todos queriam dar-lhe uma coisa. Mas quase todos eram<br />

tão pobres. . . A pobreza tem presentes tão singulares: um ovo,<br />

uma golinha <strong>de</strong> crochê, um pezinho <strong>de</strong> tinhorão, uma tigelinha <strong>de</strong><br />

doce <strong>de</strong> abóbora. As negrinhas traziam rapadura e mariola <strong>de</strong><br />

capote. Traziam pedaços <strong>de</strong> cana. E tocavam música para diverti-<br />

la, com um pedaço <strong>de</strong> papel fino num pente. . .<br />

O mata-mosquitos oferecia-lhe com encanto tiras<br />

intermináveis do seu papel <strong>de</strong> calafetação, para ela fazer bonecos:<br />

"Quando voltar aqui, quero encontrar: uma menina, uma casa,<br />

um cachorrinho, e o balão do Santos Dumont!"<br />

E ela fazia os seus bonecos, gravemente, na soleira da<br />

porta. Quando os gatos queriam passar, pulavam por cima <strong>de</strong>la.<br />

Maria Maruca insistia: "Levanta-te. Vai para outro lugar! Olha que<br />

a gente não cresce <strong>de</strong>ixando alguém pular por cima <strong>de</strong> si, quando<br />

está <strong>de</strong>itado..."<br />

A menina riscava o papel, gravemente. Apareciam flores e<br />

rostos humanos. As pessoas olhavam para o papel, olhavam para<br />

ela, e ficavam pensativas. "Ora essa!"<br />

Embora Maria Maruca lhe assegurasse que o Diabo<br />

aparecia, embrulhou-se em cortinados, enfeitou a cabeça com<br />

penas <strong>de</strong> espanador, e representou gran<strong>de</strong>s dramas, diante do<br />

espelho. Santo Antônio olhava e sorria.<br />

E para separar-se <strong>de</strong>finitivamente do mundo <strong>de</strong> todos,<br />

construiu um muro <strong>de</strong> livros, e <strong>de</strong>clarou: "Eu agora moro ali<br />

<strong>de</strong>ntro."<br />

"Já sabe. . . já sabe o A e o B. Já sabe o W e o pissilone..."<br />

"É. . . mas tão amarelinha..."<br />

"As crianças muito espertas, Deus vem buscar: leva para

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