50% - Vida Lusa
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édito<br />
Conselho das Comunidades Portuguesas<br />
sem tostão nem notícias do governo<br />
Reconheço que não me apetecia muito “falar”<br />
do CCP. Agora que o vice-presidente - que<br />
vai ser presidente e, dizem os entendidos, já<br />
o era de facto - criou um jornal que se diz “concorrente”<br />
do nosso, que o utilize para se auto-promover<br />
e para promover os órgãos que dirige.<br />
Estou a brincar, claro, não misturamos alhos com bugalhos,<br />
nós somos profissionais, independentes e, sobretudo<br />
devemos respeito e ética aos nossos leitores.<br />
Também temos o dever de privilegiar a informação<br />
que interessa o público que nos lê e aí temos de<br />
aceitar que o CCP não interessa muita gente na<br />
nossa comunidade. Por prova não se poderá falar só<br />
do número ridículo de votantes que o elegeram<br />
porque foram infelizmente semelhantes aos realizados<br />
pelos emigrantes nas eleições legislativas e<br />
presidenciais no nosso país. Mas bastará interpelar,<br />
tal como nós fizemos, umas dezenas de portugueses<br />
residentes em França e perguntar-lhes se conhecem<br />
esse órgão, para constar que os poucos que já ouviram<br />
falar nem sequer sabem para que serve.<br />
Os autores do próximo Orçamento de Estado também<br />
parecem desconhecer o CCP ou duvidar da sua<br />
real utilidade já que não lhe é atribuído nem mais<br />
um cêntimo em relação ao anterior. Mais, segundo<br />
afirma a Secção de França, o orçamento do CCP foi<br />
“reduzido de 400 pc (?) pelo facto de contemplar uma<br />
verba de 150 000 Euros para a realização da reunião<br />
Plenária estatutária programada para finais do<br />
1° semestre de 2005 e cujos custos sempre foram providos<br />
e contabilizados para além do orçamento inicial”.<br />
No mesmo comunicado a Secção de França queixase<br />
igualmente de ter tomado “conhecimento da proposta<br />
apresentada para as Comunidades através da<br />
comunicação social e não como estaria em direito<br />
de esperar, através de consulta ou informação prévia<br />
e directa oriunda da Secretaria de Estado das<br />
Comunidades ou do próprio Ministério dos Negócios<br />
Estrangeiros”. Coitados, nem uma carta receberam!<br />
O documento refere como exemplo, que, “tendo em<br />
conta a actividade própria da Secção, cada Conselheiro(a)<br />
seria reembolsado de 160 euros pela totalidade das<br />
despesas geradas pela sua actividade anual, ou<br />
seja, o equivalente a uma única deslocação de<br />
comboio entre Lyon e Marselha ou entre Paris e<br />
Nantes”. O TGV está cada vez mais caro!<br />
Também o Consul Geral em Londres, João Bernardo<br />
Weinstein, demonstra pouca consideração pelo<br />
ANTÓNIO CARDOSO<br />
CCP. Segundo afirma o<br />
conselheiro no Reino<br />
Unido, Gabriel Fernandes,<br />
numa reunião com os membros,<br />
terá dito que “embora<br />
os mesmos, no seu entender,<br />
não fossem legitimados<br />
pela maioria dos portugueses<br />
- apenas cerca de<br />
400 votaram - ele ainda assim recebia-os mais uma<br />
vez para com eles trocar impressões”.<br />
Não podemos ainda confirmar as declarações do<br />
cônsul português num país onde, “a eleição do Presidente<br />
da República, teve no Reino Unido cerca de<br />
200 votos, mas com três dias para votar e enormes<br />
recursos financeiros para a sua campanha”, refere<br />
ainda o documento transmitido à comunicação social<br />
pelo conselheiro.<br />
Na altura em que fui “conselheiro do CCP” -<br />
nomeado - também nunca me reembolsaram os bilhetes<br />
de metro que gastei para me deslocar. Mas era outra<br />
época, agora os conselheiros têm responsabilidades<br />
acrescidas pelo facto de terem sido eleitos e devem<br />
responder pelos seus actos perante quem os elegeu.<br />
Se os eleitores foram poucos, a culpa é exclusivamente<br />
dos governos que criaram estruturas para<br />
“mandar areia para os olhos” dos emigrantes privando-as<br />
em seguida de meios para atingir os<br />
objectivos.<br />
Para mostrar o que vale, o CCP só tem uma solução,<br />
manifestar. Se conseguir reunir 50 000 emigrantes<br />
à frente do Palácio de S. Bento, tenho a<br />
certeza que multiplica o orçamento por dez. É<br />
muito? Não, é só 1% dos emigrantes. A Secção de<br />
França pode começar por mandar 10 000 - é a<br />
mesma percentagem - para a rue Noisiel, a título de<br />
experiência.<br />
Brincadeira à parte, há gente de grande qualidade e<br />
dedicação no actual CCP e noutros passados, gente<br />
que vai perdendo coragem para defender causas<br />
que deveriam merecer mais interesse por parte do<br />
governo português.<br />
Ficarão sempre os outros, aqueles que se servem do<br />
CCP com trampolim para outras ambições. Se calhar<br />
é isso mesmo o que os nossos governantes pretendem.<br />
www.vidalusa.com<br />
Novembre 2004 — <strong>Vida</strong> <strong>Lusa</strong> n° 73 — 3