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JORGE MEDAUAR - O Homem que Sabia - Emanuel Pimenta

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<strong>JORGE</strong> <strong>MEDAUAR</strong><br />

o homem <strong>que</strong> sabia demais<br />

108<br />

São Paulo. Maio 22. 1990<br />

Meu caro <strong>Emanuel</strong>,<br />

emanuel dimas de melo pimenta<br />

Como vê, demorei a responder – tanto ao seu amável telefonema, no dia do meu<br />

aniversário, como à sua carta, <strong>que</strong> me encheu de muito orgulho, com as notícias do seu<br />

sucesso. Você sabe <strong>que</strong> eu sempre joguei todas as minhas fixas no seu número, isto é, na<br />

sua personalidade, na sua vontade de saber, na sua cultura, na determinação com <strong>que</strong><br />

você enfrenta os problemas da vida e os desafios da sua profissão. Mas é <strong>que</strong> ando mais<br />

ou menos embaraçado. Tenho pe<strong>que</strong>nos problemas de família. Coisas simples, mas <strong>que</strong> me<br />

roubam tempo. Jorginho, por exemplo – não sei se você já sabia – mudou-se para o Recife,<br />

onde trabalha em publicidade. A agência se chama Grupo 9 e é a melhor do Estado. Ele está<br />

bem. Mas agora, com o começo dessa recessão, <strong>que</strong> me parece continuar se avolumando,<br />

fico mais ou menos apreensivo. Por<strong>que</strong> a maioria das agências daqui e do Rio de Janeiro<br />

já dispensou quase metade dos seus funcionários. Inclusive profissionais de alto nível. E<br />

não sei se esse espraiar de coisas ruins não vá dar às costas de Pernambuco, chegando<br />

a constranger até mesmo pe<strong>que</strong>nas agências em crescimento. Maria Matilde está bem,<br />

mas anda preocupada. Como nós. Com tudo. No mais, a vida segue ora serena, ora por<br />

anfraturas e declives.<br />

Nós mesmos, somos um rio <strong>que</strong> passa, às vezes cantando nas pedras, outras vezes<br />

gemendo pelas voltas e curvas. Ao contrário da sua máquina, estas são defeituosas <strong>que</strong> até<br />

me envergonham. Tenho de trocar de uma para outra, até acertar*. Pois bem. Sua carta é<br />

um verdadeiro relatório de vida.<br />

Vida agitada. De um ser inquieto, mas perfeitamente ajustado aos mecanismos da<br />

técnica moderna da computação e de outros engenhos <strong>que</strong> fazem o ser humano se enredar<br />

cada vez mais nas engrenagens de máquinas <strong>que</strong> são abreviadoras do tempo, ou redutoras de<br />

trabalhos <strong>que</strong> antes levariam tempo e massa encefálica para resolver problemas labirínticos.<br />

Mas, você é homem desse tempo, do seu tempo. Por isso mesmo, tem de o vencer, como o<br />

está vencendo a cada passo da sua vida, na espiral do seu destino. Esse destino <strong>que</strong> você

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