JORGE MEDAUAR - O Homem que Sabia - Emanuel Pimenta
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<strong>JORGE</strong> <strong>MEDAUAR</strong><br />
o homem <strong>que</strong> sabia demais<br />
8<br />
Tudo era sempre uma festa.<br />
Discutia-se qual<strong>que</strong>r coisa.<br />
emanuel dimas de melo pimenta<br />
Era como um movimento natural, sem fronteiras, raças, credos ou religiões, e nada existia<br />
se não estivesse enfeixado num único turbilhão de humanidade, <strong>que</strong> alguns chamam de<br />
amizade – mas, <strong>que</strong> ía para além, pois por vezes eram tantas pessoas <strong>que</strong> algumas nem<br />
chegavam a se conhecer.<br />
Mas, ainda quando isso acontecia, era como uma única família, de todas as cores, todos<br />
os credos, todas as crenças.<br />
Nunca presenciei uma discussão <strong>que</strong> fosse, uma zanga, um descontentamento.<br />
Baco não encontraria melhor expressão.<br />
Vendo a<strong>que</strong>le mar de gente, todos tão apaixonadamente envolvidos em conversas e<br />
discussões <strong>que</strong> varavam a noite, por vezes eu me retirava para um canto, junto ao pe<strong>que</strong>no<br />
jardim de inverno, apenas para contemplar, admirado, aquilo <strong>que</strong>, num certo sentido, já era<br />
passado. E imaginava se não seria exatamente assim o mundo grego de Sócrates, Platão e<br />
Xenofonte.<br />
Lá era o espaço da liberdade, por excelência.<br />
Em plena ditadura militar, nunca houve qual<strong>que</strong>r temor quando estávamos dentro da<br />
sua casa.<br />
Para ele, a casa era o espelho da alma. E a sua alma era generosa e protetora.<br />
Não haviam apenas brasileiros, vinham também pessoas de todo o mundo. Quando<br />
lá chegavam, todos eram brasileiros. Esse formidável traço sem ranço, livre de qual<strong>que</strong>r<br />
sentimento xenófobo, de qual<strong>que</strong>r preconceito – descrito com poesia por Gilberto Freyre,<br />
seu amigo – explicava o lado iluminado do ser humano, <strong>que</strong> partia do milagre grego para<br />
encontrar clara referência em Lorenzo o Magnífico, em Marsilio Ficino, ou nos sonhos de<br />
Thoreau.