JORGE MEDAUAR - O Homem que Sabia - Emanuel Pimenta
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<strong>JORGE</strong> <strong>MEDAUAR</strong><br />
o homem <strong>que</strong> sabia demais<br />
1<br />
emanuel dimas de melo pimenta<br />
Os mesmos desenhos de Flávio de Carvalho, dedicados a ele, espalhados pelas paredes,<br />
Graciliano Ramos, Caribé, cartas dos seus irmãos Jorge Amado e Dorival Caymmi...<br />
Drummond, Guimarães Rosa.<br />
Tudo continuava igual.<br />
Agora, estava deitado de lado, barba por fazer, quieto, com uma grande barriga, quase<br />
morto.<br />
Trinta anos tinham se passado!<br />
Voaram!<br />
Comecei a conversar com ele.<br />
No início, o Jorge não respondia.<br />
Depois de alguns momentos, reparei <strong>que</strong> ele começou a abrir novamente os olhos.<br />
Muito lentamente.<br />
Brin<strong>que</strong>i muito, contei novidades, fui falando com vagar e, gradualmente, ele foi<br />
melhorando.<br />
A pele, muito pálida, macilenta, foi adquirindo cor, vida.<br />
Os finos lábios moveram e as palavras começaram a fluir, de início muito fracas, débeis<br />
sussurros.<br />
- Sabe, <strong>Emanuel</strong>. Eu não estou fingindo. Sinto-me tonto. É uma sensação estranha.<br />
Um estranho abandono. Pode ser da idade. Tive um pouco de febre. Mas, há um<br />
desconforto interno, uma sensação de abandono, tontura, desapego...<br />
Lá pelo meio da tarde, com alguma dificuldade, levantou- se e, sozinho, foi fazer a<br />
barba.