JORGE MEDAUAR - O Homem que Sabia - Emanuel Pimenta
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<strong>JORGE</strong> <strong>MEDAUAR</strong><br />
o homem <strong>que</strong> sabia demais<br />
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emanuel dimas de melo pimenta<br />
responsabilidade pela sua manutenção.<br />
Isso, acompanhado de um congelamento quase eterno dos valores dos aluguéis e<br />
uma razoável inflação, provocou uma profunda deterioração dos edifícios.<br />
O raciocínio é claro e simples: o inquilino não mantém, por<strong>que</strong> não possui realmente<br />
a propriedade; o proprietário não mantém, por<strong>que</strong> alega <strong>que</strong> o rendimento do imóvel não<br />
o permite.<br />
As pessoas vindas da África traziam também outra tradição de espaço, outra vivência,<br />
outra experiência.<br />
Uma sensibilidade acústica, <strong>que</strong> não combina muito bem com a<strong>que</strong>las edificaçõesmonumento,<br />
construídas pelo olho, e <strong>que</strong> necessitam de uma abordagem muito mais visual<br />
<strong>que</strong> acústica.<br />
Assim, uma verdadeira salada de intervenções sobre intervenções, acabou provocando<br />
uma fuga dos habitantes originais, para outras regiões, mais periféricas.<br />
Muitas das pessoas vindas da África acabaram por se afastar também, ou para a<br />
Alfama, ou para constituir várias favelas <strong>que</strong> compõem atualmente o tecido urbano.<br />
O centro desvalorizou, provocando um processo de periferia pelo avêsso.<br />
O centro antigo, a Baixa Pombalina, <strong>que</strong> possui uma das mais interessantes praças<br />
do século dezoito em toda a Europa, comparável e mais interessante <strong>que</strong> a de Bordeaux, a<br />
conhecida Praça do Comércio – assim chamada, paradoxalmente, pelo rei! – foi sendo mais<br />
e mais ocupada por um caos visual, feito de placas, fios, letras, luzes, coisas penduradas,<br />
sujeiras, automóveis, ônibus, bondes, caminhões, metrôs; e por um poderoso caos acústico:<br />
buzinas, caminhões, lojas de discos, ônibus e mais buzinas; sem qual<strong>que</strong>r planejamento.<br />
Atualmente, a Praça do Comércio, <strong>que</strong> representa um dos marcos na superação do<br />
Barroco pelo Neo-Classicismo, é utilizada como estacionamento de automóveis!<br />
Até há cerca de cinco anos, não se conhecia o desenho das condutas de esgotos da<br />
Baixa.<br />
O mapeamento ainda está sendo feito. Portanto, até hoje os edifícios da<strong>que</strong>la região<br />
utilizam o mesmo sistema de esgotos construído na época de Pombal!<br />
E, o <strong>que</strong> é pior, ou melhor, sem manutenção...<br />
Todo o famoso bairro da Alfama, nas encostas de uma das sete colinas <strong>que</strong> formam<br />
Lisboa, está na mesma situação de degradação.<br />
A parte alta da cidade, o Bairro Alto, com as suas pe<strong>que</strong>nas e labirínticas ruas, típicas<br />
de uma judiaria, está completamente degradada.<br />
Nas ruas, muitas vezes, as pessoas afirmam <strong>que</strong> é essa perigosa degradação <strong>que</strong> dá<br />
uma graça à cidade, e lutam contra qual<strong>que</strong>r tipo de intervenção mais profunda.<br />
A cidade do Porto, mais antiga <strong>que</strong> Lisboa, implantada numa maravilhosa encosta, com<br />
um fabuloso potencial visual e uma belíssima ponte projetada por Eiffel, está, seguramente,<br />
ainda em piores condições.