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JORGE MEDAUAR - O Homem que Sabia - Emanuel Pimenta

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<strong>JORGE</strong> <strong>MEDAUAR</strong><br />

o homem <strong>que</strong> sabia demais<br />

1<br />

emanuel dimas de melo pimenta<br />

A discussão passou rapidamente para o plano pessoal.<br />

Ministros defendendo bombeiros, um morreu.<br />

Jornalistas defendendo colegas.<br />

O povo revoltado: pobres bombeiros, eles se sacrificam...<br />

E tudo ficou como estava.<br />

Esse pe<strong>que</strong>no mas tumultuado caso com a televisão ilustra o <strong>que</strong> poderá a ser o<br />

futuro das ruínas de Lisboa.<br />

Alguns anos atrás, resolveram remodelar a Rua do Carmo.<br />

Fizeram um concurso português, nacional.<br />

O <strong>que</strong> aconteceu?<br />

Construíram verdadeiros caixotes de cimento pela ladeira, um considerável obstáculo<br />

ao fluxo de pessoas – <strong>que</strong> não é pouco – e ao fluxo de veículos numa emergência.<br />

Finalidade: plantar árvores e arbustos, como se paisagismo fosse isso.<br />

Não é preciso muita imaginação para chegar à conclusão: quando os bombeiros<br />

precisaram de vias rápidas dentro do sinuoso traçado da<strong>que</strong>le setor, não foi possível.<br />

Depois, com mais calma, o chefe dos bombeiros viria afirmar nunca ter sido necessário<br />

trafegar pela Ladeira do Carmo – ponto nevrálgico do incêndio – mas <strong>que</strong>, se tivesse<br />

precisado, não teria sido possível.<br />

O <strong>que</strong> se espera agora?<br />

Assim <strong>que</strong> o incêndio foi controlado, arquitetos foram chamados à Assembléia da<br />

República para discutir os rumos e avaliar os danos sofridos na<strong>que</strong>le espaço.<br />

Houve garantias, por parte das autoridades governamentais, de <strong>que</strong> dentro de um<br />

ano – como em 1755 – tudo começará a ser reconstruído.<br />

A Associação dos Arquitetos Portugueses decidiu realizar um concurso.<br />

Alguns arquitetos se ofereceram para ajudar.<br />

O presidente da Câmara Municipal pediu pela elaboração de uma lei <strong>que</strong> proíba o<br />

armazenamento de combustíveis dentro de casas.<br />

Na realidade, já existe uma lei <strong>que</strong> regulamenta a instalação e manutenção de<br />

combustíveis na<strong>que</strong>la região, com aprovação submetida a vistoria e direito a certificado.<br />

O prazo legal para vistorias acabara havia mais de um ano, e até ao momento não<br />

tinha sido expedido se<strong>que</strong>r um único certificado.<br />

Os responsáveis pelo Estado argumentam <strong>que</strong> a lei não os obriga a solicitar ou realizar<br />

vistorias e <strong>que</strong> nem mesmo possuem verbas ou pessoal para as fazer.<br />

Argumentam, ainda, <strong>que</strong> nem mesmo uma relação das lojas e escritórios instalados<br />

na<strong>que</strong>las ruas eles possuem!<br />

Bastaria consultar a lista telefônica...<br />

O pior é <strong>que</strong> todos se es<strong>que</strong>cem de <strong>que</strong> o maior risco para Lisboa não é o incêndio,<br />

mas sim um novo terremoto.

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