JORGE MEDAUAR - O Homem que Sabia - Emanuel Pimenta
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<strong>JORGE</strong> <strong>MEDAUAR</strong><br />
o homem <strong>que</strong> sabia demais<br />
2<br />
emanuel dimas de melo pimenta<br />
Tinham acabado de inventar as fotocopiadoras comerciais, as máquinas elétricas de<br />
datilografia, os primeiros computadores portáteis pessoais, e ele se maravilhava com o<br />
mundo novo <strong>que</strong> emergia, como se fosse mágica.<br />
Não existia contradição.<br />
Jorge Medauar era um homem livre.<br />
Na<strong>que</strong>la época, ainda não existiam computadores gráficos, as artes finais eram feitas<br />
recortando e colando sobre cartão pe<strong>que</strong>nas tiras de texto, feitas em fotocomposição, em<br />
papel fotográfico, aderindo tudo ao plano final com cola de sapateiro.<br />
Chamava-se paste-up – e era uma arte.<br />
Haviam pessoas <strong>que</strong> só faziam isso.<br />
Escolhíamos os tipos e corpos das letras em catálogos especiais. Tínhamos de imaginar<br />
como um tipo, num determinado tamanho, iria ficar. Tudo era imaginação, não era possível<br />
ver imediatamente o resultado.<br />
Os desenhos ajudavam, mas eram sombras do <strong>que</strong> seria o resultado.<br />
Enviávamos o pedido a empresas especializadas, <strong>que</strong> eram poucas e muito caras, e<br />
apenas um ou dois dias depois – na melhor das hipóteses – recebíamos a fotocomposição.<br />
Os técnicos de fotocomposição tinham fama de ser aborrecidos e mal educados.<br />
Aquilo custava dinheiro e se errássemos tínhamos de começar tudo novamente. A<br />
inutilização de um material em fotocomposição era algo grave.<br />
Para montarmos uma arte final, desfocávamos a visão, apertando ligeiramente as<br />
pálpebras e, assim, podíamos ver os campos de letras e imagens como manchas <strong>que</strong> eram<br />
ajustadas. Essa era a melhor forma de se alinhar textos e imagens.<br />
Com alguma prática, tudo ficava quase automático.<br />
Era a mesma técnica utilizada desde os mestres do Renascimento italiano. Algo <strong>que</strong> iria<br />
desaparecer completamente em pouco tempo.