JORGE MEDAUAR - O Homem que Sabia - Emanuel Pimenta
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<strong>JORGE</strong> <strong>MEDAUAR</strong><br />
o homem <strong>que</strong> sabia demais<br />
11<br />
Ele sempre foi uma pessoa sincera.<br />
emanuel dimas de melo pimenta<br />
No final dos anos da década de 1960, o Jorge Medauar foi enviado como jornalista<br />
correspondente para uma conferência no Oriente Médio.<br />
Tratava-se da então eterna celeuma em torno da fundação do Estado de Israel.<br />
- A sala estava cheia de jornalistas, de todo o mundo. Eu era o único brasileiro. Havia um<br />
general árabe discursando sobre a guerra com Israel. Falou sem parar. Podíamos ver<br />
Israel pela janela da sala onde estávamos. Era um campo verde. Tudo acontecia sob<br />
a égide das Nações Unidas. O general não escondia o seu ódio por Israel – algo <strong>que</strong><br />
eu tinha dificuldade em compreender. Tenho sempre dificuldade em compreender<br />
qual<strong>que</strong>r ódio. Descreveu armas e mais armas, canhões de todos os tipos, armas<br />
leves, aviões... quando terminou eu respirei fundo e levantei. Perguntei ao general<br />
se ele sabia como poderia vencer a<strong>que</strong>la guerra. Intrigado com a pergunta, o militar<br />
voltou a falar em armas e mais armas, sobre todo o tipo de estratégias de ata<strong>que</strong><br />
e defesa. Então, ainda em pé, eu lhe disse <strong>que</strong> aquilo <strong>que</strong> fazia vencer uma guerra<br />
era o verde, e apontei para a janela, para Israel, com os seus maravilhosos campos<br />
cultivados enquanto <strong>que</strong> o lado árabe era um verdadeiro deserto. O homem ficou<br />
furioso e terminou ali mesmo a coletiva de imprensa. Sem <strong>que</strong>rer, eu acabei saindo<br />
em todos os jornais do mundo. Devo ter sido considerado um traidor por alguns. Ora,<br />
mas era a verdade! O <strong>que</strong> vence a guerra é um povo feliz, culto e bem alimentado.<br />
Deixando o país num deserto, isso nunca seria possível!<br />
Os conflitos com Israel sempre o perturbaram profundamente.<br />
Apesar de reconhecer o direito ao Estado de Israel, ele não conseguia compreender a<br />
razão pela qual os palestinos <strong>que</strong> lá viviam foram expulsos, sem qual<strong>que</strong>r compensação ou<br />
explicação.<br />
Outras vezes, muito mais tarde, ele criticava abertamente – para não dizer furiosamente<br />
– a política belicista de Ariel Sharon.<br />
- Para <strong>que</strong>? Para martirizar toda uma população? Para humilhar? Onde ele <strong>que</strong>r chegar?<br />
O povo árabe tem uma dignidade de milhares de anos, jamais aceitará qual<strong>que</strong>r tipo<br />
de submissão!