(C. 1385-1464) 2007 - Departamento de História - Universidade ...
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aos documentos reais. Conforme assinala Marcella Lopes Guimarães, “em 1434, Fernão<br />
Lopes foi nomeado cronista oficial do reino português pelo monarca D. Duarte, embora<br />
se conjecture que muito antes tenha se <strong>de</strong>dicado à tarefa <strong>de</strong> historiar os reis<br />
portugueses.” 12 Também temos dados <strong>de</strong> que ele foi escrivão dos infantes Dom Duarte e<br />
Dom Pedro, estando muito próximo do cotidiano <strong>de</strong>stes, partilhando experiências e<br />
realida<strong>de</strong>s da corte.<br />
A caracterização feita por Marcella Lopes Guimarães sobre o cronista Fernão<br />
Lopes segue a conceitualização <strong>de</strong> Jacques Verger <strong>de</strong> homem <strong>de</strong> saber, isto é, um<br />
sujeito que não freqüentou obrigatoriamente a universida<strong>de</strong>, mas tinha contato com<br />
livros, com a cultura escrita e as formas <strong>de</strong> conhecimento da época. 13 Concordamos com<br />
tal conceito, e no estudo que seguirá, po<strong>de</strong>remos observar a aplicabilida<strong>de</strong> do termo.<br />
Chegaram até o nosso tempo três crônicas escritas por ele, a saber: Crónica <strong>de</strong><br />
El-Rei D. Pedro, composta no final da década <strong>de</strong> 1430 e antes <strong>de</strong> 1443, Crónica <strong>de</strong> El-<br />
Rei D. Fernando, escrita no meio da década <strong>de</strong> 1440, e Crónica <strong>de</strong> El-Rei D. João I,<br />
esta elaborada em duas partes, <strong>de</strong> redação na quinta década do século XV. No entanto,<br />
como nos lembrou acima Marcella Lopes Guimarães, estas crônicas po<strong>de</strong>m ter sido<br />
elaboradas em datas mais remotas, isto é, antes da sua nomeação em 1434. Como os<br />
títulos indicam, trata-se <strong>de</strong> textos que procuram centrar a trama nas figuras dos reis, mas<br />
com espaço para os <strong>de</strong>mais setores sociais do reino português. Como afirmam Antônio<br />
José Saraiva e Óscar Lopes,<br />
A gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong> Fernão Lopes como historiador consiste, principalmente, nesta visão<br />
multifacetada que abrange os aspectos sociais da vida nacional [sic] e que lhe permitiu<br />
transmitir-nos o fresco global <strong>de</strong> uma época, em vez <strong>de</strong> simples narrativas <strong>de</strong> aventuras <strong>de</strong> força<br />
e coragem <strong>de</strong> acordo com a i<strong>de</strong>ologia cavaleiresca, como as que nos apresentam outros cronistas<br />
medievos. Graças a esta superiorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> visão, possuímos hoje um precioso relato <strong>de</strong> conjunto<br />
da gran<strong>de</strong> crise social que marcou em Portugal a passagem da Ida<strong>de</strong> Média para os tempos<br />
mo<strong>de</strong>rnos. 14<br />
Com o texto <strong>de</strong> Fernão Lopes, temos, portanto, um panorama <strong>de</strong> várias forças<br />
políticas, <strong>de</strong> acontecimentos e traços individuais que foram <strong>de</strong>cisivos para a alteração da<br />
dinastia <strong>de</strong> Borgonha para a <strong>de</strong> Avis. Na nossa pesquisa, entretanto, serviremos apenas<br />
12 GUIMARÃES, Marcella Lopes. Estudo das representações <strong>de</strong> monarca nas Crônicas <strong>de</strong> Fernão<br />
Lopes (séculos XIV e XV): o espelho do rei. Tese (Doutorado em <strong>História</strong>) – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do<br />
Paraná, Curitiba, 2004. f. 41.<br />
13 Ibid., f. 45.<br />
14 SARAIVA, Antônio José; LOPES, Óscar. <strong>História</strong> da literatura portuguesa. Porto: Editora Porto,<br />
2000. p. 127.<br />
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