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(C. 1385-1464) 2007 - Departamento de História - Universidade ...

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do Reino. A historiografia oficial vai-se sobrepor à corrente que até agora [século XV]<br />

escrevera à sombra dos mosteiros ou à sombra da corte dos gran<strong>de</strong>s senhores”. 32 A<br />

produção aqui analisada aparece como híbrida <strong>de</strong>stas duas vertentes, ou seja, uma<br />

convergência <strong>de</strong> tendências da escrita monástica e dos senhores <strong>de</strong> corte.<br />

Um dos objetivos da composição da Crónica da tomada <strong>de</strong> Ceuta, por exemplo,<br />

era preservar informações que po<strong>de</strong>riam se per<strong>de</strong>r com a morte <strong>de</strong> alguns participantes<br />

do evento, como Zurara escreve:<br />

E por quanto o mui alto e mui excelente Príncipe e senhor el-Rei Dom Afonso, o quinto, ao<br />

tempo que primeiramente começou <strong>de</strong> governar seus reinos soube como os feitos <strong>de</strong> seu avô [D.<br />

João I] ficavam por acabar, consi<strong>de</strong>rando como o tempo escorregava cada vez mais, e que,<br />

tardando <strong>de</strong> serem escritos, po<strong>de</strong>riam as pessoas que ali foram falecer, por cuja a razão se<br />

per<strong>de</strong>ria a memória <strong>de</strong> tão notáveis cousas, porém mandou a mim, Gomes Eanes <strong>de</strong> Zurara, seu<br />

criado, que me trabalhasse <strong>de</strong> as ajuntar e escrever per tal guisa, que, ao tempo que se houvesse<br />

<strong>de</strong> or<strong>de</strong>nar em crónica, fossem achadas sem falecimento. E eu, em cumprimento <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>sejo,<br />

por satisfazer a seu mandado, como <strong>de</strong> meu senhor e meu rei, me trabalhei <strong>de</strong> inquirir e saber as<br />

ditas cousas e as escrevi em estes ca<strong>de</strong>rnos pela guisa que ao diante é conteúdo com tenção <strong>de</strong> as<br />

ascresentar ou minguar em quaisquer lugares em que for achado por verda<strong>de</strong>iro juízo que o<br />

merecem. 33<br />

A escrita cronística era uma forma <strong>de</strong> evitar o esquecimento <strong>de</strong> atos passados, <strong>de</strong><br />

enaltecer ações <strong>de</strong> reis e nobres, uma construção social que visava, enfim, esclarecer<br />

acontecimentos e <strong>de</strong>stacar ações <strong>de</strong> reis e nobres que ro<strong>de</strong>avam a esfera política cortesã<br />

portuguesa. Nos dois cronistas analisados, Fernão Lopes e Gomes Eanes <strong>de</strong> Zurara,<br />

po<strong>de</strong>mos perceber esta proposta com o estudo <strong>de</strong> seus objetivos <strong>de</strong> redação no início <strong>de</strong><br />

cada obra, através <strong>de</strong> mecanismos que justificavam e legitimavam a composição.<br />

Ambos procuraram produzir textos que po<strong>de</strong>riam ser consultados como fontes<br />

fi<strong>de</strong>dignas, conscientemente elaboradas e i<strong>de</strong>ntificadas como meios para conhecer o<br />

passado; aquilo que <strong>de</strong>veria ser entendido como passado e relevante ao reino e aos<br />

membros do corpo político. Enfim, uma história política, centrada nas ações <strong>de</strong> homens<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>staque.<br />

Com Fernão Lopes, temos uma escrita voltada para os feitos do reino, reunindo<br />

os vários grupos que compunham a socieda<strong>de</strong>, o que é valorizado pela historiografia,<br />

pois esta vê nisso um traço que permite reconstituir os setores sociais portugueses,<br />

principalmente pelo recorte temporal dos textos, que tratam da mudança dinástica,<br />

mostrando como estes grupos atuaram no processo. A bibliografia consultada elogia a<br />

32 DIAS, Aida Fernanda. op. cit., p. 409.<br />

33 GEZ-CTC, Cap. III, p. 45.<br />

26

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