(C. 1385-1464) 2007 - Departamento de História - Universidade ...
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Fazendo conclusão <strong>de</strong> todos os aquecimentos do Infante Dom Henrique, nos quais foi a força <strong>de</strong><br />
todas as cousas, que se em aquele dia dizeram que notar sejam. Nem presuma algum que eu não<br />
pus tamanha diligência em requerer e buscar todos os aquecimentos dos outros senhores. E não<br />
ainda daqueles principais, mas <strong>de</strong> qualquer outro do povo, escrevera seu feito, se o achava em<br />
merecimento, ou o pu<strong>de</strong>ra saber por qualquer guisa conhecendo bem que a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> el-Rei<br />
[Afonso V] meu senhor é perfeitamente saber todos os merecimentos <strong>de</strong> seus naturais para<br />
honrar a memória dos mortos, e remunerar aos vivos por os trabalhos <strong>de</strong> seus padres ou <strong>de</strong>les<br />
mesmos. 29<br />
Apesar <strong>de</strong> Zurara fazer um elogio aberto ao infante Dom Henrique, ele também<br />
mostra preocupação com os <strong>de</strong>mais portugueses que lá lutaram, em especial os nobres.<br />
De fato, a crônica cita com gran<strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> a participação dos nobres, o que será<br />
objeto <strong>de</strong> reflexão nos capítulos seguintes. A preocupação do cronista com os <strong>de</strong>mais<br />
membros do corpo político lusitano aparece juntamente com o conhecimento <strong>de</strong> que o<br />
rei, que neste caso não é Dom João I, mas sim Afonso V, preocupa-se em saber quais<br />
portugueses foram lutar, e caso estivessem mortos, as <strong>de</strong>vidas homenagens seriam<br />
prestadas, sendo que alguns familiares po<strong>de</strong>riam se beneficiar; e se estivessem vivos,<br />
po<strong>de</strong>riam comprovar mais efetivamente o seu papel, reconhecendo os merecimentos<br />
correspon<strong>de</strong>ntes, enfim, reforçando sua posição ou comprovando suas ações ao centro<br />
da coroa portuguesa.<br />
Sobre os meios <strong>de</strong> escrever a crônica, principalmente a última <strong>de</strong> Zurara, temos<br />
que o autor procurou mais os relatos dos portugueses no noroeste africano do que as<br />
informações do arquivo régio. Neste procedimento, o autor confessa que precisava<br />
prestar atenção aos <strong>de</strong>poimentos, pois po<strong>de</strong>ria receber informações duvidosas, como<br />
menciona neste trecho:<br />
[...] pois que <strong>de</strong>uo eu fazer muyto alto princepe que aallem <strong>de</strong> minha gran<strong>de</strong> Jnorancya per mym<br />
assaz conhecida tenho tantos spreitantes que ainda eu bem nom tomo a pena na mãao pera<br />
screuer. Ja começam <strong>de</strong> condanar mjnha obra. huuns por cuydarem que se dyra menos <strong>de</strong>lles do<br />
que lhes sua enganosa afeiçam faz cuydar que merecem. outros pensando. que quanto se elles<br />
mais agrauarem <strong>de</strong> meu screuer tanto o pouoo auvera rezom <strong>de</strong> cuydar que elles som dignos <strong>de</strong><br />
mayores merecymentos e que <strong>de</strong> sse nom screuerem <strong>de</strong>lles gran<strong>de</strong>s cousas que foy mais por<br />
fraqueza <strong>de</strong> que meu screuer que per fallecimento <strong>de</strong> seu trabalho. e o que peor he que taae uy eu<br />
queixosos <strong>de</strong> mym que eu sabya certo que nom soomente nom eram dignos <strong>de</strong> honra nem <strong>de</strong><br />
louuor. 30<br />
Preocupado em nem omitir nem extrapolar dados <strong>de</strong> pessoas, Zurara nos informa<br />
que o procedimento <strong>de</strong> interrogar os portugueses po<strong>de</strong>ria trazer problemas, pois os<br />
<strong>de</strong>poimentos po<strong>de</strong>riam ser mais ten<strong>de</strong>nciosos do que se esperava. Talvez na escrita da<br />
29 GEZ-CTC, Cap. LXXXIV, p. 248.<br />
30 GEZ-CCDDM, Cap. I, p. 45.<br />
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