14.05.2013 Views

Teatro de Artur Azevedo - a casa do espiritismo

Teatro de Artur Azevedo - a casa do espiritismo

Teatro de Artur Azevedo - a casa do espiritismo

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

e vou, antes que o trem parta,<br />

respondê-la, como vês.<br />

Não quero que seja diverso<br />

o meu sistema <strong>do</strong> teu:<br />

como escreveste-me em verso,<br />

em verso respon<strong>do</strong> eu.<br />

O Abel, teu recomenda<strong>do</strong>,<br />

há dias pra lá voltou;<br />

foi <strong>de</strong>miti<strong>do</strong> (coita<strong>do</strong>!)<br />

<strong>do</strong> cargo que abiscoitou.<br />

Não po<strong>de</strong> cantar vitória,<br />

nada po<strong>de</strong> conseguir;<br />

que ele te contasse a história<br />

é muito <strong>de</strong> presumir...<br />

Se tirá-la por justiça<br />

<strong>de</strong>certo a pequena vai,<br />

<strong>de</strong> volta <strong>de</strong> alguma missa,<br />

que só é quan<strong>do</strong> ela sai.<br />

Que ao tutor ninguém dissua<strong>de</strong>,<br />

tenho <strong>de</strong> mim para mim,<br />

pois quod natura dat...<br />

não sei se sabes latim.<br />

Não posso ser mais extenso:<br />

vou minha missa dizer;<br />

ex-informata suspenso,<br />

caro irmão não quero ser.<br />

Lembranças cá da comadre,<br />

não só a ti, como aos mais,<br />

teu irmão e amigo, o Padre<br />

Bernar<strong>do</strong> Teles Cascais"<br />

(Declama.) - Há um post-scriptum, mas não vem ao caso. Enfim... (Len<strong>do</strong>.)<br />

"Post sciptum: É um <strong>do</strong>s maiores<br />

o calor que faz aqui<br />

por isso em trajos menores<br />

<strong>de</strong>sculpa escrever-te a ti".<br />

(Guardan<strong>do</strong> a carta.) - Esta resposta, tinha-a eu escrito ontem. Ia <strong>de</strong>itá-la no correio, quan<strong>do</strong><br />

encontrei o Nicolau que me pediu um meio para mandar a afilhada para o convento. Lembrei-me, então,<br />

<strong>de</strong> que o Abel po<strong>de</strong>ria muito bem passar por fra<strong>de</strong> barbadinho, e arranjei uma farsa... Em vez <strong>de</strong><br />

mandar esta carta a meu irmão, escrevi uma outra a Abel, dizen<strong>do</strong> que se apresentasse hoje, no trem<br />

que vai chegar, com o competente disfarce, e... O resto adivinha-se... Não me posso sair bem <strong>de</strong>sta<br />

brinca<strong>de</strong>ira: o Nicolau há <strong>de</strong> cair-me em cima como uma bomba, bumba! Mas, com meios bran<strong>do</strong>s e<br />

suasórios, tu<strong>do</strong> conseguirei...<br />

Cena IV<br />

O mesmo e Pantaleão<br />

PANTALEÃO - Andava à sua procura, padre. Como passou?<br />

CASCAIS - Doente.<br />

PANTALEÃO - Doente?<br />

CASCAIS - Ou velho: senectus est morbus. O que <strong>de</strong>seja?<br />

PANTALEÃO - Falar-lhe sobre este maldito aci<strong>de</strong>nte...<br />

CASCAIS - Da pequena?<br />

PANTALEÃO - Sim.<br />

169

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!