Teatro de Artur Azevedo - a casa do espiritismo
14.05.2013 • Views
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MACHADINHO - Toca para a sala <strong>de</strong> jantar. Está posta a ceia. Aviem-se que preciso <strong>de</strong> vocês.<br />

TODOS - Viva o Machadinho!<br />

DOUTOR CÁBULA (Ao Machadinho.) - Eu te abençôo <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> meu estômago. (Saem to<strong>do</strong>s<br />

menos Machadinho e Luís. Música na orquestra durante a saída.)<br />

CENA II<br />

MACHADINHO e LUÍS<br />

MACHADINHO (A Luís, que entrou no gabinete da direita e saiu logo.) - O velho?<br />

LUÍS - Ainda <strong>do</strong>rme. Está ali.<br />

MACHADINHO - No Necrotério, sei.<br />

LUÍS - Necrotério?<br />

MACHADINHO - Necrotério aqui é o lugar em que se cozem as monas.<br />

LUÍS - Mas papai não é precisamente uma mona!<br />

MACHADINHO - Ninguém disse tal.<br />

LUÍS - Coitadinho <strong>de</strong> papai.<br />

MACHADINHO (Arremedan<strong>do</strong>-o.) - Coita<strong>do</strong> <strong>de</strong> papai! (Naturalmente.) Então, rapaz? Queres<br />

chorar?<br />

LUÍS - Não, mas quan<strong>do</strong> me lembro que o metemos nestes assa<strong>do</strong>s sem consciência sua...<br />

MACHADINHO - Ora, ora, que novida<strong>de</strong>! Se ele soubesse <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> cá não vinha. Bem sabes que<br />

era preciso fazer o que se fez. O velho acorda aqui, em pleno baile carnavalesco. O carnaval é coisa<br />

nova para ele. Supõe-se, fazemo-lhe supor-se, na Lua. Nada receies: eu me encarrego <strong>de</strong> <strong>de</strong>sculpar-te.<br />

LUÍS - Per<strong>do</strong>ará ele o havermo-lo engana<strong>do</strong>? abusa<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua boa fé?<br />

MACHADINHO - Deixa-te <strong>de</strong> asneiras! Olha que és um maricas! Como diabo, a não ser assim,<br />

havíamos nós <strong>de</strong> carregar com teu pai para a corte e colocá-lo em frente <strong>do</strong> velho Santos, seu futuro<br />

sogro? Ah! escreveste-lhe?<br />

LUÍS - Escrevi. Pedi-lhe que se achasse à meia noite aqui, e fantasia<strong>do</strong>. (Entra o Doutor Cábula.)<br />

MACHADINHO - Quem levou essa carta?<br />

LUÍS - O Cábula.<br />

CENA III<br />

MACHADINHO, LUÍS e DOUTOR CÁBULA<br />

DOUTOR CÁBULA - Falavam <strong>de</strong> mim?<br />

MACHADINHO - Entregaste a carta <strong>do</strong> Luís?<br />

DOUTOR CÁBULA - Em mão própria. O tal teu futuro sogro é um velho bem cabuloso. Enquanto<br />

lia a carta, <strong>de</strong>u-me uma dúzia <strong>de</strong> palmadinhas na barriga. Mas <strong>de</strong>i-lhe os contras.<br />

LUÍS - Obriga<strong>do</strong>, meu bom amigo, ser-te-ei eternamente grato.<br />

MACHADINHO (À parte.) Temos facada com certeza.<br />

DOUTOR CÁBULA (À parte.) - Vou dar-lhe o plano. (Alto.) Ó Luís, és homem para trinta mil-réis?<br />

Quero fazer uma vaca <strong>de</strong> sessenta...<br />

MACHADINHO (À parte.) - O que dizia eu?<br />

LUÍS (Dan<strong>do</strong> dinheiro ao Doutor Cábula.) - Aqui tens.<br />

DOUTOR CÁBULA - Obriga<strong>do</strong>. Em quanto estamos?<br />

LUÍS - Nós temos contas.<br />

DOUTOR CÁBULA - Então dá cá mais vinte, para fazer cinqüenta...<br />

LUÍS - Pois não. (Dá-lhe mais dinheiro.)<br />

DOUTOR CÁBULA (À parte.) - Estou arrependi<strong>do</strong> <strong>de</strong> haver pedi<strong>do</strong> tão pouco. (Alto.) Toma nota!<br />

Cinqüenta mil réis! Depois não quero dúvidas no pagamento... Vou levar a banca à glória em três<br />

relances e meio. (Vai sain<strong>do</strong>.) Olha, <strong>de</strong>pois não an<strong>de</strong>s a te escon<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mim, para evitar o pagamento,<br />

hein? (Sai. Durante a cena que se segue, ouvem-se vozerias, brin<strong>de</strong>s, etc.)<br />

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