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Teatro de Artur Azevedo - a casa do espiritismo

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POLÍTICA - Então julgas que sou alguma vadia? Estás muito engana<strong>do</strong>! A política não tem<br />

<strong>de</strong>scanso. Ainda agora an<strong>de</strong>i atrapalhada, apaziguan<strong>do</strong> uma divergência que se estabeleceu entre um<br />

sujeito e um marceneiro...<br />

ZÉ - Por quê?<br />

POLÍTICA - Porque queria a viva força apo<strong>de</strong>rar-se duma ca<strong>de</strong>ira que estava em sua <strong>casa</strong> para<br />

cobrir <strong>de</strong> palhinha... e afinal apo<strong>de</strong>rou-se.<br />

ZÉ - E quem é esse pân<strong>de</strong>go?<br />

POLÍTICA - Um sujeito velho...<br />

ZÉ - Desembuche! Quem é esse sujeito velho?<br />

POLÍTICA - Não posso dizê-lo para evitar censura. Basta <strong>de</strong> darmos à taramela. Vamos.<br />

ZÉ - Aon<strong>de</strong>?<br />

POLÍTICA - Vamos aí à toa, não nos faltará o que ver. (Saem.)<br />

Cena XXVIII<br />

Especta<strong>do</strong>r e Boato<br />

ESPECTADOR - Nada, não me faça entrar na... para cá... olhe que não sou da peça.<br />

BOATO - Não faz mal.<br />

ESPECTADOR - O empresário po<strong>de</strong> escamar-se... e com razão, que diabo. Um homem que sai <strong>do</strong><br />

camarote e entra no palco. E o <strong>de</strong>mônio <strong>do</strong> contra-regra on<strong>de</strong> tem a cabeça?...<br />

BOATO - Venha cá... venha cá...<br />

ESPECTADOR - De mais a mais, ó Seu Boato, olhe que isto é maçada... o espetáculo po<strong>de</strong><br />

acabar <strong>de</strong>pois da meia noite... e <strong>de</strong>pois não há bon<strong>de</strong>.<br />

BOATO - Lá vai um vapor. (Passa um vapor.)<br />

ESPECTADOR - Agora pergunto-lhe eu: se estan<strong>do</strong> sem vapor fazem tantas vítimas, a vapor com<br />

vapor quantas farão? É uma regra <strong>de</strong> três.<br />

BOATO - Quais são os três?<br />

ESPECTADOR - Ora esta! sempre é muito tolo!... Uma regra <strong>de</strong> três é... é... Eu lhe explico... É<br />

uma regra sem exceção. Você sabe que não há regra sem exceção.<br />

BOATO - Quanto ao número <strong>de</strong> vítimas não se amedronte. Agora há uma salva-vidas.<br />

ESPECTADOR - Mas já está posto em prática?<br />

BOATO - Posto em pratos? Em pratos limpos.<br />

ESPECTADOR - Em prática!<br />

BOATO - Por ora, está apenas posto em teoria.<br />

ESPECTADOR - Por força. Nesta terra é sempre assim. Se se tratasse dum salva-mortes, já a<br />

coisa andava na berra. mas diga-me cá: Você trata ou não <strong>de</strong> procurar a Dona Opinião?<br />

BOATO - Havemos <strong>de</strong> encontrá-la nas festas <strong>do</strong> carnaval. (ven<strong>do</strong> cair uma pasta, das<br />

bambolinas.) Ai!<br />

ESPECTADOR - Ai!<br />

BOATO - Caiu uma pasta.<br />

ESPECTADOR - Coitada! Don<strong>de</strong> cairia ela?<br />

BOATO - Do po<strong>de</strong>r.<br />

ESPECTADOR - Então o po<strong>de</strong>r é lá em cima?<br />

BOATO - É sim, senhor: dali é que nasce a corrupção <strong>do</strong>s povos.<br />

ESPECTADOR - É <strong>de</strong> cima. Sei.<br />

Cena XXIX<br />

Especta<strong>do</strong>r e Política<br />

POLÍTICA - Ah! Cá está a pobre pasta... Que queda!<br />

ESPECTADOR - Mas quem a atirou lá <strong>de</strong> cima?<br />

POLÍTICA (Misteriosa.) Psiu! Vamos assistir ao carnaval?<br />

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