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Teatro de Artur Azevedo - a casa do espiritismo

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minha pobre Virgínia, emendada e consi<strong>de</strong>ravelmente aumentada. Vossa Excelência dignar-se-á, se<br />

tanto mereço, explicar-me o mo<strong>do</strong> pelo qual se operou tão estranha metamorfose.<br />

DUQUESA - Muito simplesmente, Barão: Vossa Senhoria lembra-se <strong>de</strong> que, logo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>casa</strong>da<br />

com primo Bernardino, fomos, eu e ele, a correr o mun<strong>do</strong>? Depois <strong>de</strong> andarmos por seca e meca,<br />

resolvemos firmar a nossa residência na Ilha da Guarda Velha.<br />

BARÃO - O quê? Pois foram a seca e meca e não <strong>de</strong>ram um pulo até a olivais <strong>de</strong> Santarém, que é<br />

tão perto?...<br />

DUQUESA - Oito anos <strong>de</strong>pois, meu mari<strong>do</strong> morreu, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong>-me uma avultada riqueza. Dois<br />

anos <strong>de</strong>pois da morte <strong>do</strong> meu mari<strong>do</strong>, comecei a ser requestada pelo fidalgo mais po<strong>de</strong>roso da ilha, o<br />

Duque da Guarda Velha, senhor feudal em <strong>de</strong>z léguas <strong>de</strong> terreno e homem <strong>de</strong> senso prático. Casei com<br />

o Duque da Guarda Velha. Seis anos <strong>de</strong>pois, enviuvei pela segunda vez. Há quatro anos que me suce<strong>de</strong>u<br />

esta catástrofe.<br />

BARÃO - Vejam <strong>de</strong> que escapei! Se me tivesse <strong>casa</strong><strong>do</strong> com Vossa Senhoria, estava a estas horas<br />

no outro mun<strong>do</strong>!<br />

DUQUESA - Deixei passar no feu<strong>do</strong> a minha lua <strong>de</strong> mel....<br />

BARÃO - Outra?<br />

DUQUESA - A lua <strong>de</strong> mel da viuvez. E aqui estou. Vamos ajustar contas, Senhor Barão: Vossa<br />

Senhoria sabe on<strong>de</strong> quero bater?<br />

BARÃO - Perfeitamente. Vossa Excelência quer bater àquela porta... Agora percebo por que a<br />

Duquesa me pediu que a acompanhasse a este sítio...<br />

DUQUESA - Ainda bem que o percebe. Sem querer, fui informada que é ali que vive aquele<br />

cujos direitos extorquimos por amor da cabeça <strong>de</strong> Vossa Senhoria e por amor <strong>de</strong> minha filha.<br />

BARÃO - Da nossa filha, Duquesa.<br />

DUQUESA - De nossa filha, Barão. - Pedi então a Vossa Senhoria que me acompanhasse a<br />

esta praia, para, <strong>de</strong> viva voz e em sua presença, informar-me se foram cumpridas as suas obrigações.<br />

Se assim não suce<strong>de</strong>u, trema: Vossa Senhoria não <strong>de</strong>ve ignorar que foi hoje trata<strong>do</strong> o meu <strong>casa</strong>mento<br />

com El-rei Caju.<br />

BARÃO - Não, Senhora Duquesa, e esse <strong>casa</strong>mento é uma gran<strong>de</strong> honra para mim... porque,<br />

enfim, eu... mas lembre-se Vossa Excelência <strong>de</strong> que mesmo porque eu... in illi tempore... compreen<strong>de</strong>?<br />

não po<strong>de</strong> lançar-me no abismo, sem ser arrastada na queda pelo meu corpo...<br />

DUQUESA - Enfim, viveremos como anjos, se o Barão cumpriu o que prometeu há vinte anos.<br />

Serei feliz ao la<strong>do</strong> da minha filha...<br />

BARÃO - De nossa filha, Barão. - Hei <strong>de</strong> habituá-la a dar-me o tratamento <strong>de</strong> mãe.<br />

DUQUESA - Eu é que não posso obrigá-la a chamar-me <strong>de</strong> pai... e no entanto, amo-a...<br />

DUQUESA - Sei que a ama, e agra<strong>de</strong>ço-lhe... Mas... vamos...<br />

BARÃO - Não é preciso: aí vem a mulher a cujos cuida<strong>do</strong>s está entregue o príncipe. Ela nos dirá...<br />

DUQUESA - Silêncio...<br />

CENA X<br />

Os mesmos, TERESA, que vai atravessan<strong>do</strong> a cena para entrar em <strong>casa</strong>, <strong>de</strong>pois EL-REI<br />

BARÃO (Embargan<strong>do</strong>-lhe a passagem.) - Senhora Teresa...<br />

TERESA - Quem é?<br />

BARÃO - Um momento <strong>de</strong> atenção. Conhece-nos?<br />

TERESA - Ah! o médico <strong>do</strong> paço!<br />

BARÃO - Então já vê que não somos para aí quaisquer notívagos. - Esta senhora <strong>de</strong>seja tomar<br />

certas informações...<br />

TERESA - Estou às suas or<strong>de</strong>ns, minha senhora. Não quer entrar?<br />

DUQUESA - Por ora não. Diga-me cá... (Toma-a <strong>de</strong> parte, e fala-lhe baixo. El-rei entra, embuça<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s pés à cabeça, sem ser pressenti<strong>do</strong> pela Duquesa, e bate levemente no ombro <strong>do</strong> Barão.)<br />

BARÃO - El-rei!<br />

EL-REI - O que vieste fazer aqui em companhia da Duquesa?<br />

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