14.05.2013 Views

Teatro de Artur Azevedo - a casa do espiritismo

Teatro de Artur Azevedo - a casa do espiritismo

Teatro de Artur Azevedo - a casa do espiritismo

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O DOUTOR - Tu vais <strong>casa</strong>r-te; se nossa filha ficasse em meu po<strong>de</strong>r, a socieda<strong>de</strong> obrigar-te-ia a<br />

esqueceres <strong>de</strong>la. Reflete bem: assim como assim, não seria melhor que a tua filha fosse antes a filha <strong>do</strong><br />

Rei Caju? Em vez da pobre moça sem mãe, a po<strong>de</strong>rosa Princesa <strong>do</strong>s Cajueiros?...<br />

VIRGÍNIA - Mas.. é um esbulho!<br />

O DOUTOR - Esbulho é enforcarem-me!<br />

VIRGÍNIA - O que se há <strong>de</strong> fazer <strong>do</strong> príncipe real? Quan<strong>do</strong> digo o príncipe real, quero dizer: o que<br />

na realida<strong>de</strong> é príncipe.<br />

O DOUTOR - Queres ver? (Vai à gra<strong>de</strong> <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> e acena para o jardim.)<br />

VIRGÍNIA - O que fazes?<br />

O DOUTOR - Vais ver.<br />

CENA XII<br />

O DOUTOR, MARCOS, VIRGÍNIA<br />

MARCOS (Ao fun<strong>do</strong>.) - Cá estou. (Dirigin<strong>do</strong>-se ao Doutor.) Teresa ignora... (Cala-se, ven<strong>do</strong><br />

Virgínia.)<br />

O DOUTOR - Po<strong>de</strong>s falar... esta senhora não é <strong>de</strong>mais.<br />

MARCOS - Teresa ignora <strong>de</strong> on<strong>de</strong> lhe veio o dinheiro... Eu disse-lhe que era produto <strong>de</strong> uma<br />

subscrição.<br />

O DOUTOR - Bem (Tiran<strong>do</strong> um lápis e uma folha da carteiras.) Espera (Escreve. Música na<br />

orquestra.) "Teresa. Faze <strong>de</strong> conta que esse menino é o filho que per<strong>de</strong>ste; circunstâncias <strong>de</strong> força<br />

maior me obrigam a ocultar-lhe o nascimento. Dá-lhe o nome que quiseres: Paulo, Sancho ou Martinho.<br />

Man<strong>do</strong>-te uma bolsa: é para as primeiras <strong>de</strong>spesas. To<strong>do</strong>s os meses ser-te-á remetida uma quantia com<br />

que possam, tu e teu filho a<strong>do</strong>tivo, viver ao abrigo <strong>de</strong> toda e qualquer necessida<strong>de</strong>. Educa-o bem."<br />

(Declaman<strong>do</strong> ) É quanto basta. (Escreven<strong>do</strong>.) Misture e man<strong>de</strong>. (Riscan<strong>do</strong>.) Ora esta! julguei que<br />

estivesse fazen<strong>do</strong> uma receita. (Ergue-se; cessa a música.) Toma este bilhete, ó Marcos. (Leva Marcos<br />

até a gra<strong>de</strong> <strong>do</strong> fun<strong>do</strong>; <strong>de</strong>sce alguns <strong>de</strong>graus da escada com ele e aponta para a direita.) Vai colocar-te<br />

junto à segunda janelinha azul que se vê daqui e espera. Tenho <strong>de</strong> entregar-te uma criança, que<br />

<strong>de</strong>positarás com este bilhete e esta bolsa na porta <strong>de</strong> Teresa.<br />

MARCOS - Um enjeita<strong>do</strong>!<br />

O DOUTOR - Cuida<strong>do</strong>! Trata-se <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> segre<strong>do</strong>. O teu silêncio será largamente<br />

remunera<strong>do</strong>.<br />

MARCOS - É quanto manda?<br />

O DOUTOR - To<strong>do</strong>s os meses virás ter comigo; dar-te-ei uma quantia que farás chegar<br />

misteriosamente ás mãos <strong>de</strong> Teresa.<br />

MARCOS - Sim, senhor.<br />

O DOUTOR - De forma alguma <strong>de</strong>ve ela saber a origem...<br />

MARCOS - Fique sossega<strong>do</strong>. (Queren<strong>do</strong> <strong>de</strong>scer.) É quanto manda?<br />

O DOUTOR - É. (Marcos <strong>de</strong>sce um <strong>de</strong>grau.) Ah! (Detém-se.) Sabes quem vem ali? (Aponta para<br />

baixo.)<br />

MARCOS - El-rei...<br />

O DOUTOR - Aproxima-te <strong>de</strong>le sem que te pressinta e arrebata-lhe a luneta! (Movimento <strong>de</strong><br />

Marcos.) Não te assustes: sem luneta El-rei não vê coisa alguma: é míope: grau cinco.<br />

MARCOS - Nesse caso, é facílimo. (Desce um <strong>de</strong>grau e para, para perguntar.) Assegura-me que<br />

posso fazer tu<strong>do</strong> isto sem correr perigo?<br />

O DOUTOR (Que já tem volta<strong>do</strong> à cena.) - Asseguro. (À meia voz.) Trata-se <strong>de</strong> salvar a honra <strong>de</strong><br />

uma <strong>do</strong>nzela <strong>de</strong> honor.<br />

MARCOS - Bem, (À parte, referin<strong>do</strong>-se à Virgínia.) Deve ser aquela: tem cara <strong>de</strong> resguar<strong>do</strong>.<br />

(Desaparece,)<br />

CENA XIII<br />

355

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!