14.05.2013 Views

Teatro de Artur Azevedo - a casa do espiritismo

Teatro de Artur Azevedo - a casa do espiritismo

Teatro de Artur Azevedo - a casa do espiritismo

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

NATIVIDADE (À parte.) - Ela disse cuic! É o oui das circassianas! (Consentimento.) Ah! Quan<strong>do</strong><br />

me dará o seu cuic? Vou ao hotel ali <strong>de</strong>fronte encomendar um almoço. (Sai pelo fun<strong>do</strong>, fazen<strong>do</strong> a<br />

Josefina um sinal que espere.)<br />

CENA IV<br />

JOSEFINA, só<br />

JOSEFINA - Ah! Voilá un chinois <strong>de</strong> turc qui me embête. (Apresentan<strong>do</strong>-se.) Josefina Bataille; exmodista<br />

no Rio <strong>de</strong> Janeiro e ex-artista em Constantinopla. Não sou circassiana, mas parisienne! No Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro apaixonei-me por um garçon d'hotel: José, o meu José! Enganada por ele, resolvi expatriarme.<br />

Em Paris, <strong>de</strong>u-me a mosca e fui para Constantinopla em companhia <strong>de</strong> uma companhia <strong>de</strong> zarzuelabuffe.<br />

Ferraram-nos a mais tremenda pateada. Ficamos to<strong>do</strong>s a tocar leques por bandurra. Mas um <strong>do</strong>s<br />

nossos atores, um espertalhão, <strong>de</strong>scobriu um turco que, ten<strong>do</strong> <strong>de</strong> embarcar daí a dias para o Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, pretendia levar consigo algumas escravas. Disse comigo: estou arranjada! O homem paga-me a<br />

passagem, e logo que chegarmos ao Rio <strong>de</strong> Janeiro tomo às <strong>de</strong> vila-diogo. Agra<strong>de</strong>i-lhe, e ele comproume<br />

por <strong>do</strong>is mil e quinhentos francos, que embolsei. Embarcamos... chegamos..., e no momento em que<br />

eu me dispunha a passar-lhe o pé, abre esta janela e diz-me: - Estamos em Túnis! O animal mudara <strong>de</strong><br />

resolução? Estamos em Túnis, <strong>de</strong> baixo <strong>do</strong> pavilhão maometano, e pela lei, sou sua escrava! Que<br />

posição! E o diabo é que o diabo torna-se exigente como o diabo! Já começa a agitar o lenço.<br />

(Remonta.)<br />

CENA V<br />

JOSEFINA, CUSTÓDIO, <strong>de</strong>pois NATIVIDADE<br />

CUSTÓDIO (Entra pela primeira porta da esquerda. Está vesti<strong>do</strong> <strong>de</strong> turco, gran<strong>de</strong> e alto touca<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> eunuco. Não traz barbas. Um gran<strong>de</strong> sabre, chinelas turcas.) - Esta roupa é quente como os<br />

<strong>de</strong>mônios, e este chanfalho é muito incômo<strong>do</strong>.<br />

JOSEFINA (À parte.) - Olá! outro turco... Algum amigo.<br />

CUSTÓDIO (À parte.) - A sultana! Oh! que é esplêndida e robusta. Aí está, é das mulheres que<br />

aprecio.<br />

JOSEFINA (À parte.) - Como é feio!<br />

CUSTÓDIO (À parte.) - Vou fingir que falo turco. (Aproximan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong>la, e cumprimenta dizen<strong>do</strong>.)<br />

- Trum, trum, trum!<br />

JOSEFINA (À parte.) - Que estará ele dizen<strong>do</strong>?<br />

CUSTÓDIO (À parte.) - Decididamente inda gosto <strong>de</strong> cerejas. (Fazen<strong>do</strong> festas a Zetublé.) Trum,<br />

trum, trum!<br />

JOSEFINA - Que tipo! Ah! Mais est-ce qui'il ne va pas finir ce vieux <strong>de</strong>bar<strong>de</strong>ur.<br />

NATIVIDADE (Entran<strong>do</strong>, pelo fun<strong>do</strong>, á parte.) - Está encomenda<strong>do</strong> o almoço. (Alto a Custódio.)<br />

Omar, vil escravo, aproxima-te!<br />

CUSTÓDIO (Que tem toma<strong>do</strong> a extrema, aproximan<strong>do</strong>-se.) - Aqui estou gran<strong>de</strong>za <strong>do</strong> sol!<br />

NATIVIDADE (Indican<strong>do</strong>-lhe o fun<strong>do</strong>.) - Vai para a sala <strong>do</strong>s eunucos.<br />

CUSTÓDIO (À parte.) - Para o corre<strong>do</strong>r.<br />

NATIVIDADE - De cimitarra em punho! Degolarás to<strong>do</strong> aquele ou aquela que pretenda entrar ou<br />

sair!<br />

JOSEFINA (À parte.) - Saprelotte.<br />

NATIVIDADE - Estás nomea<strong>do</strong> eunuco mor <strong>do</strong> harém!<br />

JOSEFINA (À parte.) - Eunuco? (Alto.) Isto é <strong>de</strong>mais!<br />

NATIVIDADE e CUSTÓDIO - Hein?<br />

NATIVIDADE - Ela fala português!<br />

CUSTÓDIO - Mas tem sotaque turco.<br />

NATIVIDADE - Ah! aqui vão se passar coisas extraordinárias. (A Custódio.) Retira-te e retira da<br />

bainha a tua cimitarra. (Cantam.)<br />

Juntos<br />

333

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!