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Teatro de Artur Azevedo - a casa do espiritismo

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para que lhe aprove o filho plenamente na Instrução Pública, fá-lo sempre antes <strong>do</strong> exame. Que diabo.<br />

O pequeno po<strong>de</strong> sair-se mal e então o pedi<strong>do</strong> não tinha pés nem cabeça. (Escarra, tosse, assoa-se.) O<br />

teatro representa uma gruta agreste em um país inteiramente <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong>. Nesta gruta é que se<br />

costumam reunir, no dia 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, as calamida<strong>de</strong>s brasileiras, a fim <strong>de</strong> darem conta <strong>do</strong>s seus<br />

trabalhos durante o ano, e predisporem-se para o vin<strong>do</strong>uro. Cena I : Apareço em Be<strong>de</strong>l e digo:- Agora é<br />

que começa a revista. (Põe-se <strong>de</strong> novo a espanar, noutro tom.) Felizmente está termina<strong>do</strong> o meu<br />

serviço. Não tardam aí as calamida<strong>de</strong>s brasileiras. Encontrarão tu<strong>do</strong> limpo. (Música.) Sinto passo, são<br />

elas.<br />

Cena II<br />

O Mesmo, a Política, a Febre Amarela, Ilustríssima, a Seca, a Inundação, City Improvements, o Boato, a<br />

Capoeira, a Subscrição, o Beribéri, o Cortiço, a Conferência, o Veículo, o Engraxate, o Carcamano, o<br />

Poeta, a Morte <strong>de</strong> braço da<strong>do</strong> com o Médico<br />

Coro<br />

Calamida<strong>de</strong>s, ei-las por cá:<br />

pestes, moléstias, tu<strong>do</strong> aqui há.<br />

O fim <strong>do</strong> ano por cá nos traz.<br />

Somos, senhores, só coisas más.<br />

(A Política senta-se numa pedra mais elevada, ao fun<strong>do</strong>.)<br />

POLÍTICA (Ao Be<strong>de</strong>l.) - Não falta ninguém?<br />

BEDEL - Não, ao que parece.<br />

POLÍTICA - Mas como não gosto <strong>de</strong> dúvidas, eu, a Política, a principal das calamida<strong>de</strong>s<br />

brasileiras, que amo e dirijo todas as outras, or<strong>de</strong>no procedas à chamada geral.<br />

BEDEL - É já. (Abrin<strong>do</strong> um livro que tira <strong>de</strong> trás duma pedra.) - Política?<br />

POLÍTICA - Presente.<br />

BEDEL - A Fome? (Depois <strong>de</strong> pausa.) Não veio! Está jantan<strong>do</strong> talvez. - Febre Amarela?<br />

A FEBRE - Presente. (Vem à boca da cena.)<br />

Eu não tenho cor política,<br />

pesar <strong>de</strong> ser amarela:<br />

não escolho as minhas vítimas,<br />

ataco a esta e àquela.<br />

BEDEL - A Junta da Higiene? (Silêncio.) Também não veio. Quer-me parecer que está ocupada<br />

com algum parecer. - A Ilustríssima?<br />

ILUSTRÍSSIMA - Cá estou (Vem à boca <strong>de</strong> cena.)<br />

Eu amo o povo, senhores,<br />

e as comunida<strong>de</strong>s suas,<br />

mandan<strong>do</strong> calçar as ruas<br />

em que moram verea<strong>do</strong>res.<br />

BEDEL - A Seca?<br />

A SECA - Pronto (Acompanhada <strong>de</strong> seus horrores.)<br />

Quan<strong>do</strong> aos homens faço guerra,<br />

andam <strong>de</strong>sgraças aos molhos,<br />

secam-se as fontes da Terra,<br />

abrem-se as fontes <strong>do</strong>s olhos.<br />

BEDEL - A Inundação?<br />

INUNDAÇÃO - Presente. (O mesmo.)<br />

São horrorosos meus feitos.<br />

Ai! que tragédias! que dramas!<br />

os rios saltam <strong>do</strong>s leitos<br />

e os homens saltam das camas.<br />

BEDEL - A City Improvements?<br />

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