DA INFLUENCIA DO CONHECIMENTO ORTOGRÁFICO SOBRE O ...

4.2 - Perspectiva fonocêntrica e visão homogeneizadora do conhecimento da língua
Confrontando alguns dos argumentos basilares da perspectiva fonocêntrica com
as ideias centrais da linguística generativa a respeito do conhecimento da língua e do
seu estatuto como objecto central da disciplina, nos moldes referidos no capítulo I do
presente trabalho, poderemos ainda concluir que, se bem que não explicitada na
literatura generativista com o mesmo realce que lhe reservam os textos estruturalistas
citados na secção anterior, a perspectiva fonocêntrica da linguagem identificada nestes
últimos se coaduna com alguns momentos da caracterização do conhecimento da língua
defendida pela linguística generativa.
Como vimos especialmente em 1.1.1.3 e 1.3, a linguística generativa teoriza o
conhecimento da língua como uma entidade regulada quase exclusivamente por factores
biológicos universais de ordem inata (geneticamente pré-determinados).
Concomitantemente, concebe-o também como uma entidade radicalmente impermeável
à influência de factores de ordem social e cultural (cf., p. ex.: Chomsky, 1975:12, 27,
30; 1978:200, 201; 1986:23 e ss.; 1988:2, 4; Crain e Fodor, 1993:170), postulando-se,
em nome da "visão homogeneizadora do conhecimento da língua" decorrente destes
pressupostos, que todos os indivíduos de uma mesma comunidade linguística ostentam
uma identidade absoluta entre si quanto às propriedades definidoras do seu
conhecimento da língua (Chomsky, 1965a:3; 1988:9-10; Pinker, 1994:18).
Ora, a escrita é, na verdade, um produto cultural e não universal da espécie, na
medida em que, como já foi referido, existem indivíduos e comunidades humanas que
não fazem uso dela e atendendo também a que ela representa uma invenção
relativamente recente da Humanidade (ao contrário da linguagem oral, que é universal,
constitui um marco e um traço distintivo da evolução biológica da espécie e terá surgido
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