DA INFLUENCIA DO CONHECIMENTO ORTOGRÁFICO SOBRE O ...

certas sequências consonânticas da língua (vd. a discussão desenvolvida nos pontos
13.1.2 e 13.1.3).
Os dois níveis que acabamos de identificar em relação a uma possível
interferência do conhecimento ortográfico sobre o conhecimento fonológico têm,
segundo entendemos, graus de importância distintos, parecendo-nos o segundo nível, no
presente contexto, mais relevante do que o primeiro, conforme explicamos de seguida.
Na verdade, a confirmação, nesta população, de que a emergência das capacidades de
manipulação fonémica sucede à das capacidades de manipulação silábica e resulta da
aprendizagem da escrita alfabética replica, como já foi afirmado, um resultado
experimental largamente explorado em numerosas investigações anteriores,
provenientes sobretudo da área da psicolinguística, e situa-se a um nível relativamente
geral do conhecimento fonológico dos falantes, mais concretamente ao nível do tipo de
unidades previstas por tal conhecimento enquanto unidades de que os falantes se
mostram aparentemente conscientes dada a sua capacidade de as manipularem explícita
e deliberadamente. Trata-se enfim, a nosso ver, de mais um indício de que a unidade
sílaba parece ser uma unidade mais directamente acessível aos sujeitos do que a
unidade fonema 24 , conforme defendido pela generalidade dos autores acima referidos e
como posto em evidência, a nível experimental, pelo menos desde o estudo de
Liberman, Shankweiler, Fischer e Carter (1974).
Num plano com maiores implicações linguísticas, situa-se, segundo nos parece,
o indício de que o efeito do conhecimento ortográfico não se reduz somente ao acesso
consciente à unidade fonema, sendo igualmente possível aceitar que esse efeito se
estende a aspectos mais estritamente linguísticos, como o da silabificação de certas
sequências segmentais. A este nível, lembramos que os nossos resultados, de acordo
441