Dia mundial da ciência pela paz e pelo ... - unesdoc - Unesco
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Percebe-se que o paradigma científico (de modo incrivelmente parecido<br />
com o senso comum que tanto critica) encara tudo o que foge do usual, tudo<br />
o que é sui generis, como incorreto, falso ou anomalia (como veremos mais à<br />
frente na crítica frankfurtiana). A alteri<strong>da</strong>de é trata<strong>da</strong> com ojeriza. Além<br />
disso, notamos novamente o uso <strong>da</strong> metodologia <strong>da</strong>s <strong>ciência</strong>s naturais (neste<br />
caso, a biologia) para julgar um conceito que foge à sua alça<strong>da</strong>: a sexuali<strong>da</strong>de.<br />
Hodiernamente, já é ca<strong>da</strong> vez mais aceita a idéia de que o gênero e a<br />
sexuali<strong>da</strong>de são construtos históricos e não resultantes de determinismos<br />
biológicos.<br />
Surge assim o conceito de gênero como sendo um conjunto de maneiras de<br />
perceber, designar e classificar as distinções sexuais, atribuindo-lhes um lugar<br />
e um status social. A situação injusta que opõe homens e mulheres [e homossexuais<br />
e heterossexuais] no mundo inteiro não é obra <strong>da</strong> natureza, mas o<br />
resultado de séculos de história humana (RAMIRES, 2008, p. 69-70).<br />
Luta-se para que a anatomia não seja mais destino, e que ca<strong>da</strong> um tenha<br />
seu direito de escolha garantido, pois, se “o gênero é um produto histórico,<br />
então ele está aberto à mu<strong>da</strong>nça histórica” (CONNEL, 1995, p.189). Os<br />
comportamentos esperados de homens e mulheres vão aos poucos se desfazendo,<br />
abrindo rachaduras no que antes eram estruturas sociais sóli<strong>da</strong>s.<br />
As lutas para obter direitos como casamento e adoção são intensas, mas<br />
ain<strong>da</strong> se deparam com os obstáculos de nossa socie<strong>da</strong>de patriarcal. Não é um<br />
novo modo de ver a sexuali<strong>da</strong>de que nasce, pois, na reali<strong>da</strong>de, abre-se, agora,<br />
um espaço para que as identi<strong>da</strong>des antes reprimi<strong>da</strong>s possam se manifestar.<br />
O ideário de nossa socie<strong>da</strong>de é marcado, por todos os lados, por dicotomias:<br />
alma e corpo, claro e escuro, homem e mulher, normal e anormal, centro e<br />
periferia. O pensamento vigente é o centro e expulsa tudo o que é distinto dele<br />
para a periferia. Pois bem: se não se pode viver no centro, que se viva às margens.<br />
Todo preconceito é um juízo preestabelecido, ou seja, um prejuízo.<br />
Todo preconceito impede a autonomia do [ser humano], ou seja, diminui<br />
sua liber<strong>da</strong>de relativa diante do ato de escolha, ao deformar e, conseqüentemente,<br />
estreitar a margem <strong>da</strong> real alternativa do indivíduo (HELLER, 1992, p. 59).<br />
A emergência <strong>da</strong> diferença exige novos modos de encará-la e de conviver<br />
com ela. Não simplesmente tolerar, veja bem, mas com-viver.<br />
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