Dia mundial da ciência pela paz e pelo ... - unesdoc - Unesco

Outro ponto notável é a importância de estabelecer a interdisciplinaridade
dos diversos campos do saber, diante da fragmentação resultante do
aparecimento das ciências particulares, que investigam somente partes do
todo. Do mesmo modo, deve-se estimular o desenvolvimento de diversas
abordagens sobre o mesmo tema, mesmo que excludentes, pois, dialeticamente,
através do debate, aproximariam-se cada vez mais do objeto de
estudo. Isso faria cair por terra a noção de ciência expressa no item a do capítulo
Ciência antropocêntrica ou ciência androcêntrica?.
O AFORISMO DO GATO
Na epígrafe deste trabalho, lemos um diálogo entre o Gato Cheshire e
Alice. O que este encerto teria a ver com a temática central deste trabalho?
Como aponta Dubos, esse trecho de Alice no país das maravilhas pode ser
útil para pensarmos na preocupação que o cientista e a sociedade devem ter
com os fins a que se destina a ciência.
A resposta do Gato tem sido freqüentemente citada para exprimir a opinião
de que os cientistas não sabem para onde o conhecimento está levando a
humanidade e, além disso, não se importam muito. Diz-se que a ciência não
pode oferecer objetivos sociais porque os seus valores são intelectuais e não
éticos. Uma vez que os objetivos sociais tenham sido escolhidos por meio de
critérios não científicos, a ciência pode determinar a melhor maneira de
prosseguir. Mas é provável que a ciência possa contribuir para formular valores
e, assim, estabelecer objetivos, tornando o homem mais consciente das
conseqüências de seus atos. A necessidade de conhecimento das conseqüências,
no ato de tomar decisões, está implícita na observação do Gato de que
Alice chegaria certamente a algum lugar se caminhasse o bastante. Desde que
esse algum lugar pudesse revelar-se bem indesejável, é melhor fazer escolhas
conscientes do lugar para onde se quer ir (DUBOS, 1972, p. 165).
De fato, para alcançarmos a ciência e a epistemologia que desejamos,
devemos saber o que buscamos alcançar: uma ciência mais humana, que
considere os valores humanos e que esteja engajada na melhoria da condição
da humanidade como um todo. Como disse Rabelais, “ciência sem consciência
não é senão a ruína da alma” (RABELAIS, apud ARANHA; MAR-
TINS, 1996, p. 132). E a ruína do mundo. E da humanidade.
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