14.06.2013 Views

Dia mundial da ciência pela paz e pelo ... - unesdoc - Unesco

Dia mundial da ciência pela paz e pelo ... - unesdoc - Unesco

Dia mundial da ciência pela paz e pelo ... - unesdoc - Unesco

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

admiração e do espanto. A multiplici<strong>da</strong>de incontrola<strong>da</strong> do mundo não corresponde<br />

à ordem do pensamento, de modo que a razão precisa ser hipertrofia<strong>da</strong>.<br />

A <strong>ciência</strong> cartesiana institucionaliza a rivali<strong>da</strong>de entre o Eu e o mundo, ao<br />

conceber o dualismo intransponível entre corpo (sede <strong>da</strong>s paixões elementares<br />

que perturbam a ativi<strong>da</strong>de racional, ou seja, a natureza se manifestando<br />

em nós) e o pensamento. Ela inviabiliza qualquer equilíbrio entre o homem<br />

e a natureza, pois elimina as relações harmoniosas ou de afini<strong>da</strong>de. Como<br />

lembra Matos, “entre o eu a natureza não existe diálogo comunicativo, mas<br />

somente tensão e luta” (MATOS, 1995, p. 56).<br />

O indivíduo plenamente cartesiano define-se <strong>pela</strong> dominação: dominação<br />

<strong>da</strong> natureza, que lhe causa medo, pois pode lhe causar dor, dominação<br />

do homem, ou seja, do outro e ao mesmo tempo do igual, pois é inca<strong>paz</strong> de<br />

aceitar o diferente e dominação de si mesmo, ou seja, dominação <strong>da</strong> natureza<br />

quando ela se manifesta em nós.<br />

O pensamento iluminista prometeu-nos que, através do uso <strong>da</strong> razão e <strong>da</strong><br />

<strong>ciência</strong>, conseguiríamos um mundo de <strong>paz</strong> perpétua e de boa vontade, construído<br />

graças a um suposto progresso científico. Contudo, basta abrirmos a<br />

nossa janela para percebermos que o projeto não se realizou: <strong>pelo</strong> contrário,<br />

o uso excessivo do modo de racionali<strong>da</strong>de cartesiano acabou provocando<br />

diversos prejuízos à humani<strong>da</strong>de.<br />

Com pretensões de enriquecer ca<strong>da</strong> vez mais, industriais, grandes comerciantes<br />

e outros atacam a natureza, sem se preocuparem, na maioria <strong>da</strong>s<br />

vezes, com as conseqüências de seus atos. No cotidiano, gastamos mais<br />

recursos do que seria necessário: plástico, papel, energia, água etc.<br />

Se antes as conseqüências eram nega<strong>da</strong>s ou projetas para um futuro distante,<br />

hoje, elas já nos afligem. Mas nós não paramos de afligir a natureza.<br />

Como disse Walter Benjamin, “to<strong>da</strong> natureza começaria por se lastimar se<br />

lhe fosse <strong>da</strong><strong>da</strong> a palavra” (BENJAMIN, apud MATOS, 1995, p. 42).<br />

A Teoria Crítica mostrará que, por trás de nosso desejo de conhecer a<br />

natureza, existe não uma vontade de assemelhar-se a ela ou trazê-la a nós,<br />

mas de afastar-se, explorá-la e destruí-la. A nova epistemologia deve encarar<br />

a natureza não como o “de fora”, indiferente aos homens. Interior e exterior<br />

são inseparáveis, porque o trabalho naturaliza o homem e humaniza a natureza.<br />

É uma simbiose. Hoje, a <strong>ciência</strong> perdeu sua destinação humana e a<br />

racionali<strong>da</strong>de é usa<strong>da</strong> para dominar a natureza com fins lucrativos.<br />

95

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!