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Dia mundial da ciência pela paz e pelo ... - unesdoc - Unesco

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diferenças biológicas naturais imutáveis e separar os seres humanos em superiores<br />

e inferiores, <strong>da</strong>ndo aos primeiros justificativas para explorar, dominar<br />

e mesmo exterminar os segundos. [...] Durante muito tempo, os antropólogos<br />

afirmaram que havia duas formas de pensamento cientificamente observáveis<br />

e com leis diferentes: o pensamento lógico-racional dos civilizados<br />

(europeus brancos adultos) e o pensamento pré-lógico e pré-racional dos selvagens<br />

ou primitivos (africanos, índios, tribos australianas). O primeiro era<br />

considerado superior, ver<strong>da</strong>deiro e evoluído; o segundo, inferior, falso,<br />

supersticioso e atrasado, cabendo aos brancos europeus “auxiliar” os selvagens<br />

“primitivos” a abandonar sua cultura e adquirir a cultura “evoluí<strong>da</strong>” dos colonizadores<br />

(CHAUÍ, 2006, p.235).<br />

Podemos perceber novamente a dificul<strong>da</strong>de do paradigma científico<br />

vigente em li<strong>da</strong>r com o diferente. Em segundo lugar, procuram realizar a<br />

dominação <strong>da</strong> alteri<strong>da</strong>de, como apontaram os frankfurtianos, na tentativa de<br />

suprimir e anular o que é diverso, reduzindo-o à dimensão do mesmo.<br />

É muito habitual (mesmo entre pessoas com altíssimo grau de instrução)<br />

ouvir-se falar do progresso e <strong>da</strong> evolução <strong>da</strong> <strong>ciência</strong>, do idioma etc. O uso <strong>da</strong>s<br />

palavras progresso e evolução deve ser feito com cui<strong>da</strong>do, pois elas carregam<br />

uma idéia de passagem para um patamar superior.<br />

Na reali<strong>da</strong>de, não se pode falar em progresso científico. Quando, por<br />

exemplo, comparamos a geometria euclidiana com a geometria topológica,<br />

vemos que não são duas fases sucessivas de uma mesma <strong>ciência</strong> geométrica,<br />

mas, sim, de duas geometrias diferentes, com princípios, conceitos, objetos<br />

e demostrações completamente diferentes. Não houve evolução e progresso<br />

de uma para outra, pois são duas geometrias diversas e não sucessivas.<br />

Aprofun<strong>da</strong>remos isso mais a frente, mas vale lembrar que diversas vezes já se<br />

sustentou, ao decorrer <strong>da</strong> história, que a <strong>ciência</strong> dos grupos “superiores” foi<br />

considera<strong>da</strong> mais evoluí<strong>da</strong> que a dos grupos “primitivos”, pois era um modo<br />

mais complexo e sofisticado de explorar a natureza, de modo que desconsiderava<br />

e excluía o saber dos outros povos.<br />

Também não podemos falar em evolução lingüística. É incorreto afirmar<br />

que o português, por exemplo, é mais evoluído que o latim. Ou que o português<br />

de Portugal é mais refinado que o nosso. São diferentes línguas, desenvolvi<strong>da</strong>s<br />

por diferentes povos e que devem ser valoriza<strong>da</strong>s em sua diferença.<br />

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