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Mary Del Priore - O Príncipe Maldito (pdf)(rev) - Capa

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Abolição. Desde que a realeza se ligara à campanha abolicionista, regente e povo,<br />

por razões diferentes, aguardavam ansiosamente uma oportunidade para dar um<br />

ponto final a uma situação que a sociedade não agüentava mais. Como bem disse<br />

sobre o Treze de maio Cristiano [pg. 134]<br />

Ottoni, um liberal, “a escravidão já não existia”, uma vez que só alguns poucos<br />

senhores de escravos a sustentavam. Amparada na “junta do coice” — composta<br />

por membros do Partido Conservador que apoiavam a Abolição —, Isabel assinou<br />

no Paço da Cidade o autógrafo da lei. Ainda que não existissem mais de 8 mil<br />

escravos na Corte, foi um delírio.<br />

Multidões embriagadas de alegria invadiram o Senado e a Câmara. Músicas,<br />

vivas, foguetes, discursos e danças em toda parte. Nesta ciranda se davam os braços<br />

os fazendeiros que reconheciam a importância da reforma, todos os que tinham<br />

alforriado suas escravarias, os oficiais que se recusavam a caçar negro fugido, as<br />

autoridades que se esquivavam de dar apoio aos senhores queixosos, o povo que<br />

protegia os escravos, os ex-escravos. Foi também um recado de Isabel aos seus<br />

inimigos. Uma demonstração de força.<br />

Por algum tempo, Isabel conseguiu empurrar os problemas para debaixo do<br />

tapete. Mas neste mesmo Treze de maio, no Senado, na Câmara, o Partido Liberal<br />

apregoava que a agitação era ameaçadora, e que o único meio de neutralizá-la seria<br />

conciliar a monarquia com a democracia, promovendo reformas liberais muito<br />

adiantadas. Estava na frente desta propaganda o visconde de Ouro Preto, que assim<br />

se oferecia, junto com seu partido, para salvar a dinastia. Existia, portanto, toda uma<br />

facção que percebia que a Abolição não seria o bastante. E que Isabel não seria o<br />

nome capaz de figurar frente a um novo regime.<br />

Enquanto o café pendia das árvores e o mato crescia por falta de capina, os<br />

ódios se azeitavam. Dezenas de anos de labutas e fadigas na formação das fazendas<br />

de café se enterravam de uma penada. As queixas se multiplicavam. No entender de<br />

muitos, o imperador deixara que as coisas corressem ao deus-dará. Ao ver que o<br />

movimento atingira um ponto tal que seria difícil sustentá-lo, permitiu que a filha<br />

promulgasse uma lei discutida e votada de afogadilho. Sem uma única palavra de<br />

consolo ou esperança para os senhores espoliados. Sem um tostão de indenização.<br />

A mistura de mágoa e ressentimento engrossava. [pg. 135]

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