Mary Del Priore - O Príncipe Maldito (pdf)(rev) - Capa

experimentado contra-almirante, o príncipe marinheiro era um menino mimado.
Apenas.
Certa manhã, Augustinho subiu ao convés para registrar uma vista
inesquecível. Ancorada na baía de Todos os Santos, em meio a centenas de
embarcações, a fragata mirava a cidade de São Salvador. Defronte, o casario entre a
catedral, o palácio do arcebispo, a Sé, a Santa Casa e a ladeira da Misericórdia. Além
do equilíbrio de volumes, um festim de cores. Branco, azul, rosa e violeta vestiam os
sobrados da cidade alta, os que desciam as ladeiras e os que davam costas para o
mar. As águas, perto do cais, fulguravam. Encarando a fragata, o neoclássico edifício
da Alfândega. Os saveiros de velas brancas estremeciam, a caminho da barra. Mais
ao longe, em meio ao verde luxuriante, a ladeira dos Aflitos levava ao solar do
Unhão. Nas praias de areia cor-de-rosa, pescadores descarregavam [pg. 276] seus
barcos. O coração bateu forte. Ser o imperador disto tudo. Mandar nesta gente.
Governar estas casas. Ele poderia realizar o sonho do irmão mais velho, que o
considerava, ele bem sabia, um mero “substituto”. Aguardou em vão. Com os
acontecimentos em curso na capital, Custódio tinha outros planos. Preferiu ameaçar
bombardear o Rio de Janeiro para demonstrar o descontentamento da Marinha com
Deodoro. Caíram duas granadas na Candelária. Pela cidade se ouviram rajadas de
metralhadoras. Wandenkolk, um dos executores do 15 de novembro, fora levar
pessoalmente a intimação ao general-presidente, que entregou o poder ao seu vice,
Floriano. No dia 23 de novembro, em que Deodoro renunciava e os monarquistas
baianos se agitavam, o príncipe foi impedido de desembarcar. Esperou alguns dias
por um sinal verde, que não recebeu.
O substituto retornou à Europa desiludido e desiludindo a todos que
esperavam algum resultado dessa viagem. Tomara o tal pontapé sobre o qual lhe
prevenira Pedro Augusto. Deixou, também, má impressão entre os acólitos que
foram vê-lo a bordo. Parecia infantil e instável. Não reunia, nem de longe, as
condições do príncipe. Outro fiasco. Não faltou quem atirasse pedras ao episódio.
De novo, o frustrado desembarque só revelava um velho problema: a oposição
monarquista não enfrentava uma questão que a dividia. Afinal, quem seria o rei?
Pedro Augusto ou Pedro d’Alcântara, filho de Isabel? Desesperados, e vendo a
oportunidade escapar como água entre os dedos, alguns monarquistas insistiram na