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Mary Del Priore - O Príncipe Maldito (pdf)(rev) - Capa

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Pois ele foi se acertar com o conde e qual não foi a surpresa do criado da princesa<br />

ao ouvir do próprio Gaston que havia se acertado com o arrendatário: ele não iria<br />

parar com as explosões, mas pagaria 100 réis a mais por mês! Isso teria indignado o<br />

imperador, que dissera que, se a questão era dinheiro, ele dava 300 ou 400 réis para<br />

evitar tais sustos à filha.<br />

Outra desavença foi na Guerra do Paraguai. Desde o início, o conde pediu<br />

para comandar um regimento, mas o imperador não o enviou temendo que os<br />

louros do conde fizessem murchar os seus próprios em Uruguaiana. Só o enviou na<br />

última fase da guerra, quando ela já estava praticamente ganha. O diplomata dizia<br />

que até o Partido Liberal festejou muito o conde em sua volta e chegou mesmo a<br />

cogitar investir nele até perceber que ele não era “homem político”, e sim<br />

“financeiro”.<br />

O clima na política era de final de festa. Na correspondência diplomática, o<br />

embaixador Quesadas se queixava de que os funerais de ministérios se sucediam.<br />

Uns substituíam os outros, sem soluções para os problemas do país. Os políticos<br />

que podiam fazer muito nada faziam. De seus contatos com o imperador,<br />

depreendia que ele estava cansado e desencantado. Que tentava popularizar a<br />

princesa, mas intimamente já sabia: ela jamais ocuparia o trono. Quanto ao monarca,<br />

era apenas um homem que não despertava entusiasmos, nem tampouco ódio: era<br />

um inofensivo. Um inofensivo que usava as viagens ao exterior para fugir ao<br />

sensível estado nervoso, <strong>rev</strong>elador de certo desequilíbrio. O médico Mota Maia<br />

falava em impaludismo, progressão diabética e desordem nervosa. Ah! Os nervos.<br />

Não era impossível que o tal estado nervoso decorresse das tensões familiares.<br />

“Maldição à família que leva a todas as covardias e que vos dissolve num oceano de leite e<br />

lágrimas”, esc<strong>rev</strong>ia, na mesma época, Flaubert. Sim, [pg. 92] porque no século XIX<br />

uma família — aristocrática ou não — representava dignidade e poder. Ela impunha<br />

aos seus membros seus próprios objetivos. Ela considerava o interesse do grupo<br />

superior aos dos seus integrantes. Verdadeira fortaleza, guardava no interior<br />

segredos que pudessem macular a defesa de seu nome. A aparência de estabilidade,<br />

fosse lá o que isto quisesse dizer, era tudo. E a tal aparência não era só sinônimo de<br />

patrimônio, era uma força que defendia contra tudo o que ameaçava. Mas os tempos<br />

tinham oxidado este harmonioso retrato familiar. Os progressos do individualismo

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