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Mary Del Priore - O Príncipe Maldito (pdf)(rev) - Capa

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um dia de sol incerto, típico do inverno parisiense.<br />

A família se reuniu mais uma vez: Isabel, Gaston, Pedro Augusto. Este último<br />

telegrafava aos amigos: “Estou aflitíssimo. O imperador com 42 graus.” Augusto lhe<br />

telefonara da Áustria para dizer que também estava doente. Que o médico lhe<br />

proibira de sair de casa. Não viria acompanhar Pedro Augusto na vigília. “Estou à<br />

espera também do momento de [pg. 278] cair doente”, p<strong>rev</strong>ia “o favorito”,<br />

antecipando o fim da história. Estrela o amparava. Choravam todos. No quarto ao<br />

lado, o resto do pequeno grupo que acompanhou o imperador até o fim. Morreu<br />

depois de uma agonia romântica, sem opor resistência à dama de branco que veio<br />

buscá-lo.<br />

Morte-sono de D. Pedro II, quase um Lied de Schubert: “Dê-me sua mão, eu<br />

não sou cruel, você dormirá docemente nos meus braços.” Morte como repouso<br />

libertador do mal de viver. O clima das leituras religiosas que o imperador fizera no<br />

último ano o cobriram de uma suavidade mórbida: “A imitação de Cristo” era seu livro<br />

predileto. Ele também fora crucificado pelo Brasil. Ele também carregara uma cruz.<br />

Enquanto o pulso ficava mais fraco e a respiração inaudível, todos se reuniram,<br />

como de praxe, à volta do leito. O último momento ainda tinha poder hipnótico. A<br />

família tinha que estar junta aí também. Mesmo que a união não fizesse a força, e,<br />

sim, aumentasse os ódios, o ritual tinha que ser coletivo. Era a liturgia do adeus.<br />

Havia a solidão do que partia, mas, maior ainda, a do que ficava. Pedro<br />

Augusto não agüentou ver o avô fechar os olhos. Ele chegara tarde demais. Não<br />

pôde esboçar um gesto de adeus, nem trocar um olhar. O laço afetivo rompido<br />

significava, para ele, o abandono total. Não tinha mais ninguém. Perdia seu “único<br />

amigo”. O príncipe chorava descontroladamente. Foi afastado. Eis por que o barão<br />

do Rio Branco, que compareceu ao hotel logo depois do falecimento do imperador,<br />

não o viu:<br />

Ao lado da cama, sobre uma mesinha, viam-se um crucifixo de prata,<br />

alguns círios e muitos livros e cadernos de notas. Sobre o assoalho, no meio da<br />

sala, iluminado pelo clarão de várias tochas, via-se o caixão ainda aberto. Ao<br />

lado, de joelhos, a princesa Isabel chorava em silêncio. A alguma distância,<br />

também ajoelhados, estavam o conde d’Eu e o príncipe do Grão-Pará. Os

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