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Mary Del Priore - O Príncipe Maldito (pdf)(rev) - Capa

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suficientemente feliz. Se deveria ter abdicado sem a certeza de não poder trabalhar<br />

mais para a evolução da república. Podia ter feito melhor? Era o tempo dos<br />

balanços afetivos, familiares, morais. Os netos grandes iam e vinham entre Paris,<br />

Monte Cario, o sul da França e Londres. Enquanto isto, o príncipe esc<strong>rev</strong>ia aos<br />

amigos: “Estou com muitas saudades de todos. Tenho sido tratado com carinho<br />

pelas pessoas da família real. Estou atacado de exanguidez melancólica. Se não me<br />

caso agora, nunca mais.”<br />

Na órbita do hotel Beau Séjour, coberto nesta época do ano por glicínias azuis,<br />

circulava a poderosa família do barão de Estrela. A baronesa, mulher fina e<br />

acostumada a uma vida opulenta, via muitas cabeças se curvarem quando passava.<br />

Esplêndida de graça e elegância, intimidava o pacato imperador, que preferia não<br />

ficar a sós com ela. Temia a mulher voluptuosa, mas, igualmente, seus argumentos<br />

de excelente advogada em favor do neto, Pedro Augusto. E anotava, criterioso, no<br />

diário: “Jantei com Estrela, cuja mulher não recebi para não haver queixas.” Queixas<br />

de Isabel, que, em contraste com a aristocrata cosmopolita, era conhecida nas rodas<br />

da Corte como “beringela”, pela feiúra de seu perfil. Queixas da princesa [pg. 259]<br />

que não quisera ceder seu lugar ao príncipe. Queixas, queixas, que ele não queria<br />

mais ouvir. Sobretudo, porque o assunto da restauração pairava no ar.<br />

Estrela esc<strong>rev</strong>era ao velho monarca e ao neto incentivando o retorno. Seriam<br />

acolhidos pelos “pedristas”. Haveria apoios. O descontentamento e o caos instalado<br />

na capital não podiam ser melhor cenário. O velho sabia o que queriam dele e<br />

respondia: “Eu, sempre pronto a servir minha pátria e a sacrificar-me por ela, nunca<br />

serei manivela de tripotagens.” Então era isto. Não queria se prestar a pequenos<br />

golpes ou ao interesse de grupos. Estava fora dos conluios em torno da corrida<br />

sucessória. Tudo que lhe interessava, em Cannes, era o banho de mar dos netinhos,<br />

era ler Riancey — membro do partido legitimista na França — em vez de ler Zola<br />

— o escândalo literário da época.<br />

Mas o assunto do racha familiar ainda estava tão vivo, no Brasil, que o ex-<br />

senador do império Manuel Francisco Correia esc<strong>rev</strong>ia sobre ele: “Jamais houve<br />

questão monárquica; tivemos questão dinástica.” Em outras palavras, o problema foi<br />

o risco de um Terceiro Reinado com a “Beringela”. E, meses depois da partida para<br />

o exílio, os grupos fiéis à Coroa seguiam medindo forças, e o fantasma do atentado

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