20.06.2013 Views

Mary Del Priore - O Príncipe Maldito (pdf)(rev) - Capa

Mary Del Priore - O Príncipe Maldito (pdf)(rev) - Capa

Mary Del Priore - O Príncipe Maldito (pdf)(rev) - Capa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

contemporâneos — envolvida em dificuldades e consumações extraordinárias.<br />

Freud não diria, um pouco depois, que era preciso um obstáculo para levar a libido<br />

ao ápice? Os mecanismos da repressão sexual estavam em toda parte.<br />

Depois, havia perigos em amar. Num século de machos, a literatura discorria<br />

abundantemente sobre os perigos do corno. Do adultério feminino. A rejeição era<br />

impensável. Inadmissível. Os ciúmes faziam sofrer. Era necessário decifrar, num<br />

piscar de pálpebras, que a mulher não era mais casta. Na época em que a medicina<br />

se dividia em especialidades, se multiplicavam também as informações sobre<br />

sistemas, fisiologias e terapêuticas amorosas. Um cansativo receituário para se gostar<br />

e ser gostado. Estas eram as idéias do tempo. As que estavam no ar e contaminavam<br />

as pessoas.<br />

Por baixo dessa dificuldade, existia, contudo, outra coisa. Algo dentro dele que<br />

fechava as portas para quem quisesse abrir seu coração. Os modelos literários da<br />

época não o comoviam: amor feito de “adoração” do [pg. 108] objeto amado.<br />

Amor que fazia as pessoas encontrarem um mundo na pessoa amada, como queria<br />

Schlegel. Amor que, como dizia Balzac — autor que príncipe também lia —, era<br />

poesia dos sentidos, era o encontro da necessidade com o sentimento. Não, tais<br />

axiomas não lhe diziam nada. O príncipe não reagia a fatos psíquicos de caráter<br />

amoroso. Sua energia estava investida em outro lugar. Não conseguia assumir as<br />

tarefas afetivas que o mundo exterior lhe impunha.<br />

Todas as experiências passadas, os beijos maternos, o calor de Leopoldina, a<br />

ternura do lar lhe escapavam. Fugia-lhe, também, seu tesouro de lembranças.<br />

Lembranças da mãe morta, entre ídolo e santa. Mãe morta, cama, carniça, cadáver,<br />

amor-morte, amor desvitalizado, esquelético, mineralizado. Ele... Bem, ele não<br />

conseguia amar. Estava, apenas, investido em se defender. E se defender tornou-se<br />

uma obsessão centrada na sucessão. Sonhar com o trono e tudo quanto orbitasse à<br />

volta dele era o seu único prazer. Prazer físico e prazer emocional.<br />

E quanto a este universo silencioso, das coisas não ditas, enterradas,<br />

subterrâneas, havia ainda uma palavra que resumia o que ia dentro dele:<br />

hereditariedade. A palavra era antiga. As academias científicas, cem anos antes, já se<br />

perguntavam: haveria doenças crônicas que passassem de uma geração a outra? Será<br />

que ele não amava porque seu avô não sabia amar? Ou porque não tinha amigos? O

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!