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Mary Del Priore - O Príncipe Maldito (pdf)(rev) - Capa

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que a princesa regente foi investida na ausência do chefe de Estado... Mas a<br />

questão é se o imperador poderá assumir o governo do país e se recorrerá ou<br />

não à legislatura para reclamar que a princesa sua filha continue a governar em<br />

seu nome por não poder ele fazê-lo. [pg. 141]<br />

Preparavam-se as malas. A França o salvara, dizia o avô, já brincalhão.<br />

Embora magro e pálido, readquiria, pouco a pouco, o gosto das coisas, a vontade de<br />

viver. O resto do tratamento ficaria para o Brasil Charcot e Semmola foram<br />

intransigentes: dois meses de férias; depois da chegada, leituras leves, medicação<br />

metódica, nada de emoções. A avó decidiu pagar promessa. Tinha que ir a Lourdes<br />

depositar a bandeira brasileira aos pés de Nossa Senhora. Depois seguiram para<br />

Bordéus, embarcando no Congo com o neto, a pequena e, para ele, odiosa comitiva.<br />

Cada qual com a sua bagagem íntima.<br />

O que avô e neto ainda não sabiam é que, depois do sol brilhante do Treze de<br />

maio, a situação mudara como por encanto. As luzes da festa se foram apagando, o<br />

ruído festivo cessou, os despeitos foram aparecendo e a ambição dos liberais<br />

aumentou. As conspirações se armavam na surdina, e no próprio paço da regente —<br />

espalhava Ferreira Viana — se tramava a queda do gabinete que substituíra<br />

Cotegipe. Logo se criaria em torno do novo ministro, Sr. João Alfredo, uma<br />

atmosfera de escândalo e difamação. Os horizontes políticos iam ficando<br />

carregados.<br />

Estas e outras questões esperavam o velho e o moço deste lado do Atlântico.<br />

Na noite quente do verão europeu zarparam, deixando para trás as luzes da cidade<br />

de Bordéus, suas portas e pontes de pedra, o Grande Relógio do século XIII, a<br />

estátua eqüestre de Joana d’Arc. O vapor deslizou pelo rio Garonne em busca do<br />

mar. Parecia um copo de leite derramado num retângulo escuro. As cores da terra e<br />

do céu, o vento sobre as ondas, as nuvens douradas do crepúsculo anunciavam uma<br />

boa viagem. No passadiço, o rapaz se deixava embalar pelo suave barulho da água.<br />

Lembrava.<br />

O príncipe juntava os cacos da experiência européia. Revia informações<br />

retiradas de jornais rasgados, de cartas amassadas que trazia consigo. Eram<br />

lembranças rasas como os casos anedóticos que se transmitem entre os membros de

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