Mary Del Priore - O Príncipe Maldito (pdf)(rev) - Capa
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doente pela democratização de costumes. A aristocracia assistia a um momento de<br />
transição.”<br />
De fato, se caminhava em direção a mudanças. No país, o número de adeptos<br />
da República crescera, sobretudo, depois da Abolição. Ressentidos, muitos<br />
escravocratas que antes apoiavam a monarquia aderiram à oposição. Era uma forma<br />
de vingança. E a repercussão dos ideais republicanos, se não havia contagiado a<br />
maioria, contava com adeptos em outras províncias. Na noite de 2 de novembro,<br />
por exemplo, houve um levante no 17° Batalhão de Linha, provocado pelo chefe de<br />
Polícia de São Paulo, que logo foi demitido pelo governo, não sem a aclamação<br />
delirante do povo e da imprensa. O sentimento do republicanismo já estava tão<br />
arraigado que, por pouco, a República não foi proclamada pelos paulistas. [pg. 157]<br />
O Exército, por sua vez, não era mais o mesmo conjunto de tropas que<br />
vencera o Paraguai. Tudo mudara. A Escola Militar era mais um clube de discussões<br />
políticas e literatura do que um campo de exercício. Os conflitos entre civis e<br />
militares aumentavam. Os políticos tentavam desprestigiar as forças armadas. O<br />
imperador não entendia que era preciso negociar entre o interesse dos partidos e o<br />
dos militares. As asperidades entre o ministro João Alfredo e o presidente do Clube<br />
Militar, Deodoro da Fonseca, tinham ficado mais fundas em função de um episódio<br />
de indisciplina abertamente discutido na imprensa.<br />
Euclides da Cunha, então jovem aluno da Escola Militar, esc<strong>rev</strong>ia seu primeiro<br />
artigo, “A Pátria e a Dinastia”, em 22 de dezembro, comentando a transferência de<br />
tropas para o Mato Grosso sob o comando de Deodoro, enviado para um mal<br />
disfarçado exílio político. A ação do governo de dispersar o Exército para<br />
enfraquecê-lo não impediria, segundo Euclides, a lei da evolução de seguir o seu<br />
curso “fatal” e “inexorável”: “Desiluda-se pois, o governo; a evolução se opera na<br />
direção do futuro” — profetizava. No dia 30 de dezembro, como que a anunciar os<br />
confrontos a vir no ano seguinte, a Guarda Negra, constituída por ex-escravos<br />
devotados à princesa Isabel, teve um dos mais sangrentos choques com os<br />
republicanos.<br />
Numa sala da Sociedade Francesa de Ginástica, na travessa da Barreira, o<br />
republicano Silva Jardim começou a usar palavras de baixo calão para se referir à<br />
família imperial. Foi o que bastou. Os gritos de guerra encheram a rua: “Morra Silva