Mary Del Priore - O Príncipe Maldito (pdf)(rev) - Capa
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como [pg. 168] torpe e vil concubinato. Sem reagir, ele parecia concordar com este<br />
estado de coisas. Aderia, portanto, às beatices da princesa.<br />
O imperador ainda ponderou, lembrando a importância da Abolição que teria<br />
minorado seus sofrimentos na doença. Mas lembrou-se, rapidamente, que o<br />
desgosto e a indignação da lavoura cresciam no país. Se estivesse aqui, as coisas se<br />
passariam diferentemente, confessou, se referindo às indenizações. A solução fora<br />
precipitada. Não se precisava ter ido tão longe de uma vez.<br />
D. Pedro parecia lamentar o gesto da filha e esquecer as pressões que o<br />
sucesso do neto na Europa criara por aqui. E insistia em tapar o sol com a peneira:<br />
“A fala do trono está excelente.” Aos olhos de Taunay, contudo, parecia frouxo,<br />
retrógrado. A conversa o entristecia. Em meio à tempestade que se armava, nenhum<br />
sinal de força. Era a mão do destino atuando, e apenas ela. O velho parecia ter<br />
escolhido o alto do muro, de onde assistia, melancólico, o embate entre seus<br />
herdeiros, vendo afundar o império. Quanto aos festejos de aniversário da Lei<br />
Áurea, o príncipe, alegando ter recebido ameaças de morte, preferiu manter-se a<br />
distância da capital. Esperto! Ouvia o ranger de dentes dos proprietários. Jogava o<br />
jogo dos descontentes com a princesa.<br />
Com a abertura das Câmaras, uma nova renúncia de ministério se preparava.<br />
João Alfredo, depois de ter apoiado a Abolição e ter enviado Deodoro para o<br />
disfarçado degredo, queria largar o governo. Não tinha maioria no Parlamento e os<br />
conservadores, membros do seu próprio partido, não podiam ouvir falar dele.<br />
Tentou-se de tudo para manter os conservadores no poder, mas os nomes cogitados<br />
ou não aceitaram ou não conseguiram composições que lhes garantissem a maioria.<br />
Ao clima de vazio político se somava outro: o de conspiração dentro da família<br />
imperial. Na correspondência do conde de Nioac ficava claro, por exemplo, que<br />
circulava nos ministérios o rumor sobre “intrigas de um grupo rival”. Grupo que<br />
tinha na imperatriz Teresa Cristina um porta-voz, um fantoche ou uma espécie de<br />
“eco”. Ela deixava gotejar, [pg. 169] venenosamente, suas opiniões sobre a<br />
sucessão. Apesar da linguagem cifrada, ficava evidente a movimentação do partido<br />
“pedrista”, como já era chamado o grupo de acólitos do jovem príncipe. Desde a<br />
ultima viagem e da briga com Mota Maia, ele tinha a proteção da avó. Pois, agora,<br />
ela contava mais do que nunca.