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Mary Del Priore - O Príncipe Maldito (pdf)(rev) - Capa

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abundantes, mas <strong>rev</strong>elavam as mazelas físicas do adolescente. Ele recusava o<br />

imp<strong>rev</strong>isto que o distanciara da única felicidade possível: o futuro trono. Seu corpo<br />

respondia à mudança de situação. Não era mais o prometido. Tinha que lidar com<br />

isto. Reagia chamando a atenção. Ficava doente. Tinha dores de cabeça intensas.<br />

Tinha insônia freqüente e palpitações acompanhadas de tremor nas mãos. Tinha<br />

medo imaginário. Temia ser vítima de tifo — febre mortal como a que matara sua<br />

mãe. Morrer era uma obsessão contínua. Os médicos recomendavam banhos frios.<br />

Uma cadeia de pequenos males comprovava que a presença do primo mais<br />

alimentava do que diminuía sua dor. [pg. 70]<br />

Em 1877, Pedro Augusto se preparava para passar à Segunda — o equivalente<br />

ao ginásio — no Colégio Pedro II. Nos últimos dois anos, as moléstias do<br />

adolescente só faziam aumentar. E provável que, no internato, as cobranças sobre a<br />

sua situação também tenham crescido. Que rei era ele? Um rei sem reino, de meia-<br />

tigela, que não valia dois caracóis. Lá, tinha amigos e conhecidos que não o viam<br />

mais como o futuro imperador. Um desprestígio! Lá, começavam a se discutir,<br />

também, as vantagens da república, as da monarquia e as de um sistema como o II<br />

Império de Napoleão III, mas, em nenhum deles, ele parecia ter seu lugar. Sentia-se<br />

abandonado. E não era só um sentimento. Era realidade. Quando os avós partiram<br />

para uma viagem aos Estados Unidos, sua tia, encarregada de cuidar dele e do<br />

irmão, se limitava a poucas e rápidas visitas, findas as quais remetia aos avós um<br />

pequeno diagnóstico: Pedro está bem, Augustinho, resfriado! Era tudo. As<br />

promessas que fizera à mana Leopoldina, de zelar pelos meninos, foram esquecidas.<br />

Por este esquecimento, eles começaram a odiá-la.<br />

No pano de fundo das tensões familiares, muita coisa acontecia. A campanha<br />

contra a escravidão ganhava força nos jornais e nas conversas. A Lei do Ventre<br />

Livre, aprovada em 1871, libertando os filhos de escravos, dava gás aos<br />

abolicionistas. O avô se engajara, mas de cima do muro. O ex-ministro Sinimbú<br />

contava aos diplomatas estrangeiros que a questão da abolição só não estava<br />

resolvida porque o imperador não queria: “Ele julga conveniente aos interesses da<br />

monarquia e da sua dinastia ter sempre a abolição engatilhada como uma arma para<br />

ter sobre sua dependência os proprietários de escravos.” Já os diplomatas<br />

consideravam que D. Pedro era abolicionista em conversa com estrangeiros, e

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