Mary Del Priore - O Príncipe Maldito (pdf)(rev) - Capa

O presidente não teve dúvidas. Dissolveu o Congresso e assumiu a ditadura.
Militares tomaram as ruas, fecharam os teatros e cercaram os telégrafos. O conde de
Paço D’Arcos informava Lisboa: “A mocidade das escolas, colaboradora da revolta
de 15 de novembro, se levanta indignada, e esperam-se distúrbios, quando não
menos uma revolução.”
Num manifesto à nação, Deodoro explicava por que destituíra senadores e
deputados de seus mandatos. Entre outras razões, dizia claramente: “Usamos de
generosidade para com os adeptos da monarquia e eles nos afrontam já
conspirando, já provocando a ação dos poderes públicos de modo ousado e insólito.
A linguagem da imprensa partidária, filiada à causa da restauração, é um brado de
insurreição diária e audaz.” A desculpa era salvar a República e o país... de uma
restauração da monarquia.
O clima para uma conspiração em favor da restauração não podia ser melhor.
Os sebastianistas sabiam que eles eram uma ameaça concreta e temida. Em
condições ideais, nasceu, do outro lado do Atlântico, um projeto. Atropelar o casal
d’Eu era a ordem. Mas como fazê-lo tendo à [pg. 275] frente um príncipe
melancólico? Simples. Com um substituto: seu irmão. Outro belo e jovem Saxe e
Coburgo. O risonho Augusto iria protagonizar o golpe pensado pelos “pedristas”.
Embarcaram o mano, promovido a segundo-tenente, numa fragata austríaca.
Zarparam tendo como porto de chegada a Bahia, sede de muitos monarquistas. De
lá, iriam para o Rio ou estacionariam no Prata à espera de boa ocasião para se
apresentar. Deu até no New York Times: Restauração em favor de D. Augusto e,
enquanto o príncipe não chegasse, um triunvirato tocaria o país. O plano vazou. As
instâncias mais altas do governo Deodoro souberam dele.
O ministro das Relações Exteriores tentou, sem sucesso, impedir o embarque
do rapaz. Tarde demais. Enquanto o irmão singrava rumo aos trópicos, os
sebastianistas tentavam criar um suporte. A idéia era promover um encontro do
contra-almirante Custódio de Melo com o futuro sucessor. Eles já se conheciam. O
oficial comandava o cruzador onde estava o jovem quando da proclamação da
República. Vira o menino chorar. Vira-o triste e taciturno. Chegou a sugerir que ele
pedisse uma licença de seis meses, antes de se demitir da Marinha. Promoveu até um
jantar de despedida, como forma de consideração ao governo que caíra. Para o