Mary Del Priore - O Príncipe Maldito (pdf)(rev) - Capa
Mary Del Priore - O Príncipe Maldito (pdf)(rev) - Capa
Mary Del Priore - O Príncipe Maldito (pdf)(rev) - Capa
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
pressões do grupo favorável à princesa. Afinal — acudia Ouro Preto —, as linhas de<br />
trem cresciam e o café por elas transportado também. A resposta veio rápida.<br />
Segundo o Rio News, folha dos comerciantes estrangeiros no Brasil, nenhuma<br />
saca de café fora embarcada desde meados de junho. A recuperação [pg. 175] era<br />
difícil de estimar: “Receamos que suas conseqüências não sejam bem conhecidas até<br />
agora”, afirmava o editorialista, que lembrava, também, que milhares de<br />
cafeicuitores tinham se endividado junto ao Banco do Brasil, colocando em<br />
funcionamento uma roda de falências que ninguém conseguia deter. Outros passos<br />
foram dados na direção errada. A febre bancária se somava ao arriscado caminho da<br />
política financeira, com pedidos à Câmara de créditos suplementares para cobrir o<br />
déficit relativo ao exercício anterior. Desequilibrado, o orçamento do Império fez<br />
um empréstimo à Casa Rothschild de 20 milhões de libras esterlinas.<br />
Um dia depois da posse de Ouro Preto, o conde d’Eu embarcava no navio<br />
Alagoas para uma viagem política ao Nordeste. Silva Jardim teve um gesto ousado.<br />
Reservou passagem e se comprometeu em cobrir cada passo do itinerário de<br />
Gaston. Onde o príncipe parasse para falar e receber homenagens, ele também<br />
excitaria os ânimos e os sentimentos republicanos. Embarcou no mesmo navio com<br />
o intuito de promover a propaganda republicana, recebendo por toda parte os<br />
aplausos que o povo negava ao príncipe. Na Revista Ilustrada, o lápis ágil do<br />
caricaturista representava os dois percorrendo o país num velocípede. O conde com<br />
uma coroa sobre a cartola, e o jornalista com um barrete frígio — capucho símbolo<br />
da Revolução Francesa — sobre o chapéu.<br />
Zeloso do destino de sua mulher, e do seu próprio, Gaston tentava fazer<br />
alianças, mas, na maior parte das vezes, foi recebido com duchas frias. Contava,<br />
apenas, com a presença de comissões organizadas de última hora. Eram as<br />
chamadas “recepções ao genro imperial”. Talvez o isolamento, talvez a sensação de<br />
missão mal cumprida, tudo resultou num escorregão, em Recife, que o deixou em<br />
maus lençóis. Lá, fez um “discurso republicano” que caiu como uma bomba nos<br />
meios políticos. “Se a nação tiver um dia interesse em depor a dinastia e proclamar a<br />
república, aquela pôr-se-á de acordo com a maioria da nação.” Um escândalo esta<br />
afirmação de que o sogro apoiaria a república. A resposta não tardou. [pg. 176]<br />
Republicanos mais ferozes, como Aristides Lobo, não mediram palavras, tanto