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Mary Del Priore - O Príncipe Maldito (pdf)(rev) - Capa

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precisava para alimentar suas ambições: o sonhado reino nas Américas. Mas<br />

também sentiria as diferenças que fizeram seu pai queixar-se ao conde Gobineau<br />

quando este visitou o Brasil: “um tal país...” Gusty fugia dos trópicos. Com ou sem<br />

o dote de Leopoldina, procurava ficar o máximo que podia na Europa.<br />

Havia o reencontro com o passado, mas também existia o encontro com o<br />

presente. Nas cidades portuárias o movimento era intenso. Milhares de barcos<br />

acostados nos cais carregavam produtos manufaturados que seriam reexportados<br />

para as colônias. Elas estavam encarregadas de absorvê-los. Entre Bíblias e<br />

máquinas a vapor, até patins de gelo e bidês seguiam para os trópicos. Exércitos<br />

dotados de armas modernas modelavam como queriam os impérios além-mar. As<br />

grandes capitais tinham sofrido reformas monumentais, se interligando graças a<br />

trens e automóveis. Nas ruas, as bicicletas se misturavam aos transeuntes em busca<br />

dos grands magazins. Velocidade, atividade febril, energia, tudo parecia transpirar de<br />

uma civilização que se tornara poderosa pelo domínio das ciências.<br />

A Exposição Universal, primeiramente em Londres e a seguir em Paris, era a<br />

prova formidável da extensão do poderio humano. O excesso era uma marca do<br />

tempo: excesso de bibelôs, de móveis, de quadros, de roupas. As rivalidades<br />

industriais favoreciam a baixa dos preços, mas a mecanização tinha suprimido<br />

muitos empregos. Os miseráveis e desempregados se misturavam aos grandes<br />

consumidores pelas avenidas. Era toda parte, se conjugavam os mesmos verbos:<br />

beber, dançar, brigar, amar, roubar, mas tudo isso em ambiente mais melancólico do<br />

que alegre. A caricatura que enchia os livros, alguns dos quais Pedro Augusto tinha<br />

[pg. 98] em sua biblioteca, destilava um humor agressivo sobre as mudanças em<br />

curso.<br />

A Europa das grandes capitais era burguesa. E, por sua vez, a literatura<br />

expunha o nervo da idiotice burguesa em todo o esplendor. Os autores eram<br />

cáusticos em relação aos parvenus, aos que vinham de baixo, aos que ascendiam. Os<br />

“meus idiotas”, como os chamava Flaubert! Estes tinham tudo “novo”: carruagem<br />

nova, arreios novos, mobília nova, brasão de armas novo. Lembravam a Pedro<br />

Augusto gente que ele conhecia e que morava na Glória ou no Catete e que se<br />

intitulava “barão disso”, “visconde daquilo”. Econômico, o ferro desafiava as leis de<br />

construção com sua leveza.

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