Mary Del Priore - O Príncipe Maldito (pdf)(rev) - Capa
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Rosa de Ouro enviada pelo papa Leão XIII.<br />
O presente, longe de valorizá-la, a ridicularizava aos olhos dos liberais. Poucos<br />
amigos compareceram à cerimônia de entrega do vaso de prata com folhas de<br />
acanto, do qual brotavam as flores em ouro, que teve lugar na capela imperial.<br />
Poucos “cartões de privilégio”, antes disputados a tapas, responderam ao convite.<br />
As tribunas não estavam cheias. Era a reação silenciosa dos barões do café. No<br />
mesmo dia, José do Patrocínio subia ao palco do teatro Lucinda para fazer<br />
propaganda republicana.<br />
Foi quando o príncipe partiu para Minas Gerais. Numa viagem curta, de uma<br />
semana, estava encarregado de supervisionar as obras da Estrada de Ferro Pedro II.<br />
Ele se inteirara do assunto na viagem à Europa. Era engenheiro e foi acompanhado<br />
por colegas de profissão. Apontamentos, dados estatísticos, folhetos, relatórios,<br />
cópias de contratos, tudo referente à matéria lhe tinha sido, anteriormente,<br />
mostrado. O trem era a modernidade do país. E ele pegava carona na máquina e em<br />
tudo que ela podia representar. Cruzou sobre trilhos o mar de morros de Minas e as<br />
pontes sobre rios pardacentos. Em toda parte foi recebido com “espetáculos de<br />
gala”: pequenos concertos amadores, jantares, discursos.<br />
As cidades, antes ligadas por empoeiradas diligências, se conectavam graças<br />
aos trilhos. As estações se sucediam: Ouro Preto, Itabira, Sabará assim como se<br />
multiplicavam os contatos com as câmaras municipais, presidentes de província,<br />
chefes de polícia e manda-chuvas locais. A cada pouso, visitava igrejas, hospitais e<br />
orfanatos, espargia esmolas e era acolhido “por pessoas gradas e o povo”. Esperto,<br />
vendia sua imagem. Agradava. Na imprensa, era tratado de “o <strong>Príncipe</strong> Democrata”,<br />
enquanto o tio era o intruso e ladrão. Mas a plataforma não parava por aí. De volta à<br />
Corte, instituiu um prêmio ao melhor aluno de religião da Escola Santa Isabel, foi<br />
indicado para diretor da Academia de Belas-Artes, distribuía donativos para capelas.<br />
O príncipe era notícia. [pg. 153]<br />
Ele não queria deixar o palco montado por seus partidários. As cartinhas<br />
trocadas com Estrela comprovavam a vontade de ver e de ser visto: “Todos os<br />
santos me acudam! Passei o dia todo ontem em casa, como nos tempos de<br />
estudante. Invente o senhor alguma coisa para eu sair hoje da toca. Lembrei-me de<br />
ir jantar na Tijuca, no hotel Vista Alegre. Desconfio, porém, que é um absurdo.”