Mary Del Priore - O Príncipe Maldito (pdf)(rev) - Capa
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colocada sobre a relva. Depois, tinham lugar as corridas de Longchamps, com seus<br />
prêmios: o Seymour, o Moskowa, o Pré-Catelan e outros.<br />
A multidão, variada, entusiasmada, sentada, em pé ou trepada nos carros<br />
particulares, urrava: “bravo, Marasquin”, “bravo, Perla!”, cavalos vendidos depois<br />
das corridas a 10 mil francos. A cúpula dourada do túmulo de Napoleão lembrava<br />
que, para extinguir as recordações do império, teria-se que arrasar a cidade. As<br />
águias cesáreas, elementos essenciais da decoração dos edifícios, planavam em<br />
colunas e portadas. A poderosa inicial, o N de todos os tamanhos, se reproduzia nos<br />
detalhes. No Quartier Latin — bairro das escolas —, pátios escondidos e escadas<br />
em caracol [pg. 101] levavam a anfiteatros cheios de gente. Rapazes, homens<br />
maduros militares e senhoras novas e velhas escutavam e anotavam. Em pé, giz na<br />
mão frente ao quadro-negro, um conferencista. Era a moda. Não havia edifício<br />
público, fachada ou ruína no bairro em que não se lesse em tinta preta:<br />
“LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE”. A modernidade, a<br />
burguesia e os restos do império ainda se entrelaçavam.<br />
Paris também foi para o príncipe e os avós um mergulho nos então chamados<br />
“deveres de sociedade”. Damas e cavalheiros bem-nascidos tinham um “dia” de<br />
recepção em que abriam as portas dos salões. “Será em sua casa, em tal dia da<br />
semana, de tal a tal hora”, rezavam os cartões. Ficava-se no máximo meia hora em<br />
cada salão, pois os convites para o mesmo dia eram muitos. Atendê-los fazia parte<br />
da administração do tempo da família imperial durante a viagem. O resto dos<br />
contatos se estendia aos camarotes de teatro ou ópera. Tais camarotes eram<br />
microssalões nos quais se desenrolavam outras tramas, além do espetáculo: amores<br />
adúlteros, conquistas rápidas, fofocas políticas. Um público seleto se reunia para<br />
concertos, espetáculos e bailes em recepções sofisticadas. Nos raouts, importados da<br />
Inglaterra e definidos por Balzac como um desfile de narcisos, se reuniam centenas<br />
de jovens para conversar ou dançar. A contratação de orquestras e os serviços de<br />
cantores animavam os bailes. A vida mundana e agitada não apagava, contudo, as<br />
marcas do nascimento.<br />
Freqüentadores dos salões e restaurantes, os mimados dejetos da aristocracia<br />
marcavam a sua diferença graças a títulos de nobreza e carradas de orgulho. Neste<br />
grupo, o exercício da impertinência, mesmo quando não se tratava da nobreza de