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1356 - Bernard Cornwell

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tremendo e não sabia o que dizer, por isso se virou e olhou de novo para o<br />

castelo.<br />

— Eles vão atacar? — perguntou.<br />

— Claro que não — respondeu Thomas.<br />

— Claro que não?<br />

— Eles estavam meio adormecidos ou meio bêbados. Talvez<br />

estejam prontos para um ataque surpresa de manhã. Mas duvido. É por isso<br />

que meus homens têm duas regras, senhor.<br />

— Regras?<br />

— Eles podem beber o quanto quiserem, mas só quando eu deixo. E<br />

nada de estupros.<br />

— Não… — começou Roland.<br />

— A não ser que queiram ser enforcados na árvore mais próxima.<br />

Ouvi dizer que Labrouillade queria estuprar minha mulher. É verdade? —<br />

perguntou Thomas, e Roland apenas confirmou. — Então lhe devo um<br />

agradecimento, senhor. Porque o que o senhor fez foi corajoso. Então,<br />

obrigado.<br />

— Mas sua esposa…<br />

— Ela vai viver. Talvez com apenas um olho. O irmão Michael fará<br />

o que puder, mas duvido que possa fazer muito. Só não sei se ainda devo<br />

chamá-lo de “irmão”. Não sei bem o que ele é agora. Venha, senhor.<br />

Roland se permitiu ser erguido e levado pela floresta até a<br />

fazenda.<br />

— Eu não sabia — disse ele, e hesitou.<br />

— Não sabia que Labrouillade era um canalha? Eu lhe disse, mas e<br />

daí? Todos somos canalhas. Eu sou le Bâtard, lembra?<br />

— Mas não deixa seus homens estuprarem?<br />

— Pelo amor de Deus — disse Thomas, virando-se para ele. —<br />

Você acha a vida fácil? Pode ser fácil num torneio, senhor. Um torneio é<br />

artificial. A gente está de um lado ou do outro, ninguém pensa que Deus<br />

toma partido e há juízes para garantir que o sujeito não seja carregado<br />

como um cadáver. Mas aqui não existem juízes. É só a guerra, guerra sem<br />

fim, e o máximo que a gente pode fazer é tentar não estar do lado errado.<br />

Mas quem, em nome de Deus, sabe que lado é o certo? Depende de onde a<br />

gente nasceu. Eu nasci na Inglaterra, mas se tivesse nascido na França<br />

estaria lutando pelo rei João e achando que Deus estava do meu lado.<br />

Enquanto isso, tento não fazer o mal. Pode não ser uma regra muito boa,<br />

mas funciona, e quando faço o mal rezo, dou esmolas à Igreja e finjo que<br />

minha consciência está limpa.<br />

— Você faz o mal?<br />

— É a guerra. Nosso trabalho é matar. As escrituras dizem non<br />

occides, mas nós matamos. Um doutor inteligente em Oxford me disse que<br />

o mandamento significa que não devemos cometer assassinato, e isso não<br />

é a mesma coisa que “não matarás”, mas quando levanto a viseira de um<br />

pobre coitado e enfio uma espada no olho dele isso não serve muito como<br />

consolo.

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