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O cardeal franziu a testa.<br />
— E qual é?<br />
— Você tinha um irmão — disse Thomas. O rosto do cardeal ficou<br />
sombrio e o dedo estendido tremeu, depois baixou. — Você tinha um irmão<br />
— repetiu Thomas. — E ele está morto.<br />
— O que você sabe sobre isso? — perguntou o cardeal num tom<br />
ameaçador.<br />
— Sei que ele foi morto com uma flecha disparada por um filho do<br />
diabo — respondeu Thomas. Ele poderia ter implorado pela própria vida,<br />
mas sabia que não conseguiria nada. Estava cercado por bestas retesadas e<br />
por homens de armas, e tudo que lhe restava era a postura de desafio. —<br />
Sei que ele foi morto por uma flecha cortada de um pé de freixo ao pôr do<br />
sol, morto por uma flecha cuja casca foi arrancada pela faca de uma<br />
mulher, que recebeu uma ponta de aço forjada numa noite sem estrelas e<br />
penas tiradas de um ganso morto por um lobo branco. E sei que a flecha foi<br />
disparada de um arco que tinha permanecido por uma semana em uma<br />
igreja.<br />
— Feitiçaria — sussurrou o cardeal.<br />
— Todos eles devem morrer, Eminência — falou o padre Marchant<br />
pela primeira vez. — E não só as prostitutas e os excomungados, mas<br />
aqueles homens também! — Ele apontou para Robbie e Sire Roland. — Eles<br />
violaram seus juramentos!<br />
— Um juramento para um homem que tortura mulheres? —<br />
zombou Thomas. Ele ouviu cascos de cavalos nas pedras do pátio do lado<br />
de fora da abadia. Havia vozes lá, e estavam furiosas.<br />
O cardeal também ouvira as vozes e olhou na direção da porta da<br />
abadia, mas não viu nada ameaçador ali.<br />
— Eles morrerão — disse, fitando Thomas de novo. — Eles serão<br />
mortos por la Malice. — E estalou os dedos.<br />
Uma dúzia de monges que estiveram parados junto ao altar<br />
elevado se afastou, e Thomas viu um frade ali. Era um homem mais velho,<br />
e fora tão espancado que seu hábito branco estava sujo do sangue que<br />
havia pingado do lábio partido e do nariz. E atrás dele, nas sombras atrás<br />
do altar, havia uma tumba. Era um caixão de pedra, esculpido e pintado,<br />
repousando sobre dois pedestais de pedra num nicho da abside. A tampa do<br />
caixão fora deslizada para o lado, e agora uma figura familiar surgiu das<br />
sombras. Era o escocês Sculley, com os ossos amarrados no cabelo<br />
estalando enquanto ia até a tumba e enfiava a mão dentro dela. Ele tinha<br />
mais ossos amarrados na barba, que batiam no peitoral sobre a cota de<br />
malha.<br />
— Você mentiu para mim — gritou para Robbie. — Fez com que eu<br />
lutasse pelos ingleses desgraçados e seu tio diz que você deve morrer, que<br />
é um fracote, um peido. Não é digno do nome Douglas. Você é bosta de<br />
cachorro, isso sim.<br />
E da tumba ele tirou uma espada. Não se parecia nem um pouco<br />
com as espadas nas pinturas das paredes. Mais parecia um alfanje, uma