DIÃRIO OFICIAL PODER LEGISLATIVO - Assembléia Legislativa do ...
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Vitória-ES, quarta-feira, 25 de maio de 2005 Diário <strong>do</strong> Poder Legislativo - 2167<br />
mulheres, pró-homossexuais. O resulta<strong>do</strong> da<br />
pesquisa gerou o título <strong>do</strong> relatório: “Good for<br />
business”, ou seja, “É bom para os negócios”. A<br />
conclusão foi que como o mun<strong>do</strong> é cada vez<br />
mais provoca<strong>do</strong> pela alteridade, pela diferença -<br />
os merca<strong>do</strong>s, a globalização econômica , etc -<br />
quanto mais uma instituição é capaz de<br />
contemplar a adversidade humana mais ela<br />
dialoga com as necessidades <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Afinal<br />
de contas, a adversidade é um <strong>do</strong>s maiores<br />
patrimônios da humanidade.<br />
Durante o dia nós brasileiros dialogamos<br />
com várias culturas no café, no chá, na comida<br />
chinesa, na comida árabe, no alfabeto, na língua.<br />
Portanto, a adversidade é um patrimônio da<br />
humanidade cada vez mais, e a globalização<br />
econômica exige que as instituições dialoguem<br />
com essa rica geografia de entidades culturais<br />
que caracterizam as democracias<br />
contemporâneas.<br />
Há um pensa<strong>do</strong>r contemporâneo que<br />
publicou um texto intitula<strong>do</strong> “Poderemos viver<br />
juntos?” O questionamento que ele levanta é que<br />
hoje 75% <strong>do</strong>s conflitos arma<strong>do</strong>s em curso no<br />
mun<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> a ONU, são conflitos que têm<br />
algum verniz de natureza cultural, religiosa,<br />
racial. Muito embora muitas vezes seja um<br />
verniz, pois há interesses econômicos. E um<br />
desafio para as democracias, um desafio para um<br />
projeto democrático contemporâneo é promover<br />
o respeito à pluralidade de qualquer natureza.<br />
A questão <strong>do</strong>s quilombos é fundamental.<br />
A única forma de compensação, o único<br />
instrumento efetivo de reparação que o<br />
Constituinte de 1988 registrou foram as terras<br />
das comunidades <strong>do</strong>s quilombos. Isso tem uma<br />
importância extraordinária <strong>do</strong> ponto de vista<br />
simbólico, porque os africanos escraviza<strong>do</strong>s<br />
vieram para o Brasil para trabalhar a terra,<br />
entretanto o ano em que termina o tráfico<br />
transatlântico é o ano em que o Brasil a<strong>do</strong>ta a<br />
primeira lei de terras, em 1850. Há uma<br />
historia<strong>do</strong>ra que faz um trabalho muito<br />
interessante sobre o tema.<br />
Em 1850, quan<strong>do</strong> o instituto <strong>do</strong><br />
escravismo está definitivamente condena<strong>do</strong>,<br />
alguém lembra de dificultar, para aqueles que<br />
estavam na iminência de serem libertos, o acesso<br />
à terra. Passam a burocratizar e a estabelecer<br />
uma série de exigências para o acesso à terra,<br />
portanto uma questão absolutamente<br />
fundamental.<br />
Sobre criminalidade e racismo têm duas<br />
facetas. Alguns pesquisa<strong>do</strong>res como Inácio<br />
Cano, <strong>do</strong> Rio de Janeiro, e Paulo Sérgio<br />
Pinheiro, da Universidade de São Paulo - Núcleo<br />
de Estu<strong>do</strong>s de Violência, há anos vêm<br />
trabalhan<strong>do</strong> esse tema. Uma faceta é superar<br />
uma idéia ainda <strong>do</strong> positivismo criminológico de<br />
Cesare Lombroso, de Nina Rodrigues e etc. que<br />
insiste em identificar o jovem negro com<br />
potencial criminoso. Esse é um problema grave<br />
que maus policiais ainda vejam um jovem negro<br />
como um potencial criminoso e o tratem dessa<br />
forma.<br />
Tenho três filhos. Tenho um filho<br />
biológico que é Kaiodê e tenho <strong>do</strong>is outros filhos<br />
que acabaram se tornan<strong>do</strong> filhos porque me<br />
amam como pai e eu os amo como pai. Um deles<br />
é o Daniel; aliás, <strong>do</strong>s três, é o único que optou<br />
pelo ramo <strong>do</strong> Direito e, portanto, é o que vai<br />
ficar com meus livros e com as minhas dívidas.<br />
O Daniel faz o quarto ano de Direito da PUC,<br />
em São Paulo, uma das melhores Universidades.<br />
Aliás, no último ranking, a PUC “bateu” a<br />
Universidade de São Paulo. Essa é uma<br />
rivalidade boa na graduação. Porque no<br />
mestra<strong>do</strong> e no <strong>do</strong>utora<strong>do</strong>, há décadas, já<br />
“batíamos” a USP e agora estamos “baten<strong>do</strong>”<br />
também na graduação. O Daniel fez uma<br />
pesquisa na sala dele, perguntan<strong>do</strong> para os<br />
colegas que têm carros de marca parecida com o<br />
seu, quantas vezes eles eram para<strong>do</strong>s pela polícia<br />
toda semana. E constatou no quarto ano que<br />
noventa e nove por cento <strong>do</strong>s colegas de sala de<br />
aula nunca foram para<strong>do</strong>s pela polícia. E Daniel<br />
é para<strong>do</strong>, em média, duas vezes por semana.<br />
Então, é preciso um investimento maciço <strong>do</strong><br />
Poder Público para acabar com essa idéia de que<br />
jovem negro ... inclusive isso é uma<br />
demonstração de que essa coisa <strong>do</strong> social<br />
também tem o componente racial, porque é um<br />
jovem negro de classe média que fala inglês, que<br />
estuda em uma excelente Universidade e tem um<br />
carro que não é importa<strong>do</strong>, mas não é um carro<br />
que pode ser ti<strong>do</strong> como popular. E ele, ainda<br />
assim, é vítima da discriminação.<br />
Outro aspecto é o de que o racismo<br />
embrutece, Sr. Amílcar, as pessoas: a vítima, o<br />
autor e o agente. Esse embrutecimento, penso<br />
que o Brasil ainda não foi capaz de diagnosticar<br />
até onde é possível embrutecer alguém, quan<strong>do</strong> a<br />
cultura a qual ele está associa<strong>do</strong> não é<br />
reconhecida como cultura e a cultura que é