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DIÁRIO OFICIAL PODER LEGISLATIVO - Assembléia Legislativa do ...

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2170 - Diário <strong>do</strong> Poder Legislativo Vitória-ES, quarta-feira, 25 de maio de 2005<br />

que não estão entre as de melhores reputação.<br />

Sempre lecionei no direito. Minhas turmas<br />

tinham sessenta, setenta alunos, quatro ou cinco<br />

negros. A meu juízo, o fato simples <strong>do</strong> PROUNI<br />

passar a considerar, a possibilidade de fazer com<br />

menos alunos, porque não tenho mais relação<br />

com essa universidade, mas via a trajetória<br />

acidentada que os meus poucos alunos negros<br />

tinham e eu, em geral, os indagava o porquê de<br />

sair e voltar, sair e voltar e a resposta,<br />

invariavelmente, era: eu não estou conseguin<strong>do</strong><br />

ter recurso para jantar à noite; eu vou para casa<br />

jantar e <strong>do</strong>rmir.<br />

Pode se fazer críticas ao PROUNI, pode<br />

se fazer críticas à eventual utilidades que sejam<br />

feitas da idéia como ela está originalmente<br />

pensada. Mas não se pode não admitir que ele<br />

permite, que ele facilita, tende a favorecer um<br />

segmento que briga arduamente para se manter<br />

no ensino público priva<strong>do</strong> e ainda assim, muitas<br />

vezes, não consegue. Então é um aspecto<br />

positivo que parece que vale a pena ser<br />

comenta<strong>do</strong>.<br />

Sobre a questão da saúde, a lei que criou<br />

o SUS, a lei <strong>do</strong>s anos 80. Há alguns dias<br />

participei de uma Banca muito interessante em<br />

que o candidato fez uma dissertação sobre o<br />

direito à saúde. E foi muito rico porque pude me<br />

deparar com uma interpretação <strong>do</strong> direito à<br />

saúde constitucional, a saúde sob a estrutura<br />

normativa <strong>do</strong> SUS.<br />

Tanto a Constituição, quanto o SUS,<br />

falam sobre os fatores condicionantes da saúde,<br />

que são vários: o trabalho, a habitabilidade,<br />

saneamento público, etc.. São vários os estu<strong>do</strong>s<br />

que demonstram que a raça ou a cor também é<br />

um fator condicionante da saúde. Mas. Por<br />

exemplo, os instrumentos de controle<br />

epidemiológico, em geral ainda não consideram<br />

aquelas enfermidades prevalentes entre a<br />

população negra, que devem ser precocemente<br />

detectadas e cuja detecção poderia evitar,<br />

inclusive, a morte das pessoas, como é o caso da<br />

anemia falciforme .<br />

Penso que este é um tema que o<br />

movimento negro deve cada vez mais pautar,<br />

inclusive explicar à sociedade, porque essa<br />

aproximação entre biologia e raça está na base<br />

<strong>do</strong> racialismo que surge na França no final <strong>do</strong><br />

século XVIII, que é a aplicação da idéia <strong>do</strong><br />

darwinismo para a sociedade. A idéia de seleção<br />

natural de espécimes fortes e fracas, Darwin<br />

pensa para a natureza e não para a sociedade,<br />

mas isso foi aplica<strong>do</strong> e ainda é. Portanto é<br />

preciso um cuida<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> explicamos para a<br />

sociedade que não há diferença essencial<br />

biológica entre negros e brancos, mas há <strong>do</strong>enças<br />

que incidem mais sobre a população negra e que<br />

o esta<strong>do</strong> precisa ter uma resposta adequada para<br />

isto.<br />

A questão <strong>do</strong> trabalho. Parece-me que o<br />

movimento negro, já há muito tempo, preocupase<br />

com este tema. Em São Paulo acompanhei<br />

uma iniciativa muito interessante que foi a<br />

assinatura de duas convenções coletivas de<br />

trabalho. O Sindicato <strong>do</strong>s Comerciários assinou<br />

uma convenção coletiva com as Camisarias<br />

Colombo, por meio <strong>do</strong> qual essa empresa, que é<br />

uma empresa de confecção, a<strong>do</strong>tou cotas de<br />

vinte por cento para negros na estrutura vertical<br />

da empresa. E o mesmo sindicato assinou um<br />

acor<strong>do</strong> coletivo com as Casa Bahia, há oito, nove<br />

meses, de maneira que as Casas Bahia agora<br />

estão nacionalmente implantan<strong>do</strong> uma política<br />

de ação afirmativa de inclusão de negros. Na<br />

verdade penso que este tema já está posto há<br />

muito tempo.<br />

Sobre as novas lideranças também sou<br />

otimista. Até pela passagem <strong>do</strong> tempo, cada<br />

evento que vou, vejo oitenta, oitenta e cinco,<br />

noventa por cento de jovens, como aqui hoje, por<br />

exemplo. Há alguns poucos empederni<strong>do</strong>s, como<br />

eu, por exemplo, que posso integrar o conselho<br />

de anciãos <strong>do</strong> Movimento Negro, um decano.<br />

Em geral as pessoas me chamam e quan<strong>do</strong> me<br />

chamam, venho e falo. Mas vejo jovens in<strong>do</strong><br />

para a universidade.<br />

O Educafro faz um projeto para<br />

a<strong>do</strong>lescentes no Brasil, que talvez seja a maior<br />

política social para a juventude brasileira. São<br />

hoje aproximadamente cento e cinqüenta mil<br />

jovens no Brasil, negros e brancos pobres, que<br />

vão para cursinhos preparatórios para o<br />

vestibular, com um custo de dez, quinze, vinte<br />

reais por mês. Um trabalho voluntário <strong>do</strong>s<br />

professores.<br />

No Rio de Janeiro o Educafro está in<strong>do</strong><br />

para a terceira geração de professores. O sujeito<br />

freqüentou o cursinho, não pagava, passou,<br />

terminou a faculdade, voltou e já estamos na<br />

terceira geração de forma<strong>do</strong>s, que duas, três<br />

vezes por semana, gratuitamente, vai para uma<br />

sala de aula muitas vezes mal iluminada, sem<br />

qualquer ventilação e deste lugar estão sain<strong>do</strong><br />

alguns <strong>do</strong>s talentos que, com certeza, pela<br />

história que têm, pela história de opressão, mas<br />

também pela capacidade de responder pelas<br />

adversidades, ou como diz o Milton Nascimento<br />

“rir quan<strong>do</strong> devia chorar”; ou como diz o<br />

Caetano “em milagres <strong>do</strong> povo”, por acreditar no<br />

futuro, estão não reivindican<strong>do</strong> o ingresso delas

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