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desiguais. Com essa proposição pretendia, porém, justificar a escravidão e a dizia mesmo<br />

necessária para que outros homens pudess<strong>em</strong> pensar. E supondo, num vaticínio não<br />

confirmado pela História, que a automação viria libertar o hom<strong>em</strong> do trabalho, afirmou<br />

Aristóteles 22 que “se cada instrumento pudesse, a uma ord<strong>em</strong> dada, trabalhar por si, se as<br />

lançadeiras tecess<strong>em</strong> sozinhas, se o arco tocasse sozinho a cítara, os <strong>em</strong>preendedores não<br />

iriam precisar de operários e os patrões dispensariam os escravos”.<br />

O hom<strong>em</strong> se libertou do trabalho escravo que se revelava como uma forma<br />

legitimada de violência, mas a transição para o modelo atual de trabalho, na modalidade de<br />

<strong>em</strong>prego, não se deu linearmente, pois se seguiu a Era Medieval e, nela, uma sociedade<br />

dividida <strong>em</strong> rígidos estamentos: os senhores feudais e os servos. A servidão era imposta a<br />

quase todos os camponeses e se diferenciava do trabalho escravo porque o servo se ligava à<br />

terra e pelo seu uso pagava diversos tributos 23 , passando a ter novo amo quando a terra era<br />

vendida.<br />

A Baixa Idade Média 24 assistiu a transformações sociais e econômicas que<br />

serviram à progressiva estruturação do sist<strong>em</strong>a capitalista de produção. A sociedade<br />

estamental foi gradativamente se desintegrando e, nesse mesmo toar, a economia autosuficiente,<br />

típica do feudalismo, foi sendo substituída por uma economia comercial. O<br />

crescimento d<strong>em</strong>ográfico 25 e o renascimento urbano, com a <strong>em</strong>ancipação pacífica ou não<br />

das cidades onde mais florescia a atividade comercial, deram orig<strong>em</strong> a uma <strong>nova</strong> sociedade,<br />

agora estruturada <strong>em</strong> classes e a habitar cidades ou burgos 26 .<br />

Nessas cidades, as corporações de mercadores, que buscavam garantir o<br />

monopólio do comércio local, e as corporações de ofício, visando cada uma destas à<br />

monopolização de uma certa arte ou ofício, eram influenciadas pela cultura cristã conhecida<br />

como escolástica e, sob a sua doutrina, condenavam a usura. Por isso, uma mercadoria<br />

deveria s<strong>em</strong>pre ser vendida pelo preço da matéria-prima utilizada mais o valor da mão-deobra<br />

<strong>em</strong>pregada 27 . Apenas os companheiros (ou oficiais) eram r<strong>em</strong>unerados como se<br />

foss<strong>em</strong> protótipos de assalariados, pois o mestre-artesão retribuía o trabalho dos aprendizes,<br />

que ocupavam a base da pirâmide corporativa, através de alimentos, vestuário e alojamento,<br />

além do aprendizado.<br />

Com o passar do t<strong>em</strong>po, muitos dos mestres se enriqueciam e exerciam, com<br />

rigor, a exclusividade da atividade artesanal. Os companheiros se uniam com o intuito de<br />

22 Cf. DE MASI, Domenico. Desenvolvimento s<strong>em</strong> trabalho. Tradução de Eugênia Deheinzelin. São Paulo :<br />

Editora Esfera, 1999. p. 14. Igual r<strong>em</strong>issão faz Segadas Viana, op. cit. p. 28.<br />

23 A ex<strong>em</strong>plo da corvéia (trabalho gratuito nas terras do senhor <strong>em</strong> alguns dias da s<strong>em</strong>ana), da talha<br />

(percentag<strong>em</strong> da produção das tenências) e da banalidade (tributo cobrado pelo uso de instrumentos ou bens<br />

do senhor). A servidão medieval sofreu influência, <strong>em</strong> sua formação, de instituições romanas e germânicas, a<br />

ex<strong>em</strong>plo da clientela (relação de dependência social entre os indivíduos na sociedade romana, influenciando o<br />

modo como se constituiu a relação senhor-servo na ord<strong>em</strong> feudal), do colonato (instituído pelo Império<br />

Romano, impunha a fixação do hom<strong>em</strong> à terra, objetivando conter o êxodo rural e a crise de abastecimento<br />

causada pelo fim da escravatura) e do precarium (entrega de terras a um grande senhor <strong>em</strong> troca de proteção).<br />

Cf. VICENTINO, Cláudio. História Geral. São Paulo : Scipione, 1997. p. 110.<br />

24 A Baixa Idade Média <strong>este</strong>ndeu-se dos séculos X ao XV.<br />

25 Crescimento d<strong>em</strong>ográfico proporcionado pelo fim das invasões na Europa e pela redução dos níveis de<br />

mortandade que as grandes epid<strong>em</strong>ias provocaram.<br />

26 Burgu, <strong>em</strong> latim, significa fortaleza, referindo-se, assim, às muralhas que circundavam as cidades.<br />

27 Vicentino, op. cit., p. 139.

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