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por trás de cada caso de histeria havia uma lembrança reprimida de abuso<br />

sexual na infância. Mas acabou mudando a sua explicação, para afirmar que a<br />

histeria é causada por fantasias – nem todas desagradáveis – de ter sofrido<br />

abuso sexual quando criança. O peso da culpa foi transferido do pai ou da<br />

mãe para a criança. Um debate semelhante se alastra hoje em dia. (A razão<br />

para Freud ter mudado de idéia ainda está em discussão – as explicações vão<br />

desde ele ter provocado escândalo entre seus colegas vienenses do sexo<br />

masculino de meia-idade até ter levado a sério as histórias dos histéricos.)<br />

São muito questionáveis os casos em que a “lembrança” vem à tona<br />

de repente, especialmente com a ajuda de um psicoterapeuta ou<br />

hipnotizador, e em que as primeiras “recordações” têm uma qualidade<br />

fantasmagórica ou onírica. Muitas dessas afirmações de abuso sexual<br />

parecem ser inventadas. O psicólogo Ulric Neisser, da Universidade Emory,<br />

afirma:<br />

Existem abusos infantis, e existem lembranças reprimidas. Mas há também<br />

lembranças falsas e inventadas, e elas não são de modo algum raras. As<br />

lembranças errôneas são a regra, e não a exceção. Acontecem todo dia.<br />

Ocorrem até em casos em que o sujeito está absolutamente confiante –<br />

mesmo quando a lembrança é aparentemente uma luminosidade<br />

inesquecível, uma dessas fotografias metafóricas mentais. Sua ocorrência é<br />

ainda mais provável nos casos em que a sugestão é uma possibilidade<br />

expressiva, em que as lembranças podem ser modeladas e remodeladas<br />

para satisfazer as fortes exigências interpessoais de uma sessão de terapia.<br />

E quando a lembrança foi reconfigurada dessa maneira, é muito, muito<br />

difícil mudar.<br />

Esses princípios gerais não nos ajudam a determinar com certeza onde<br />

está a verdade em cada caso ou afirmação individual. Mas em média, num<br />

grande número dessas afirmações, é bem evidente no que devemos<br />

apostar. As lembranças errôneas e a reelaboração retrospectiva fazem<br />

parte da natureza humana; estão associadas ao nosso território e sempre<br />

acontecem.<br />

Os sobreviventes dos campos de extermínio nazistas fornecem a<br />

demonstração mais clara possível de que até os abusos mais monstruosos<br />

podem ser continuamente mantidos na memória humana. Na verdade, o<br />

problema de muitos sobreviventes do Holocausto tem sido criar uma<br />

distância emocional entre si mesmos e os campos de extermínio, esquecer.<br />

Mas se, em algum outro mundo de maldade indizível, fossem obrigados a<br />

viver na Alemanha nazista – vamos dizer, numa próspera nação pós-Hitler<br />

com sua ideologia intata, exceto que teria mudado de idéia sobre o antisemitismo<br />

–, imagine-se o ônus psicológico para eles. Nesse caso, talvez<br />

fossem capazes de esquecer, porque recordar tornaria insuportáveis as suas

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